Fazendo jus às raízes, Bel Wilker – filha de José Wilker e Mônica Torres, dois grandes nomes da dramaturgia brasileira – também se dedica às artes cênicas e à produção de crônicas, traduções e resenhas literárias. Ela dá o recado: ouvir é diferente de escutar. E a escuta é capaz de transformar.
Você escolheu o clássico de Lewis Carrol, Alice no País Das Maravilhas, como seu objeto de afeto. Por quê?
Eu assisti ao filme da Disney antes de começar a ler. Mas quando descobri que o filme era um livro, fiquei muito animada. E quando comecei a minha relação de afeto com livros, que é uma relação forte e importante na minha vida, passei a ganhar várias edições de presente, a colecionar edições em outras línguas, traduções especiais… acabei com uma coleção que tenho muito carinho de manter viva.
Essa edição que eu escolhi foi uma das que eu mais trabalhei ao longo das minhas leituras. Tem anotações, palavras marcadas que eu queria pesquisar… virou até tema da minha monografia. Tem algo da aventura que eu acho encantadora, mas também da transformação e do autoconhecimento, que ao longo da vida vem sendo terapêutico e virou um mecanismo de autoafeto pra mim.
Ser atriz é se deixar afetar por um papel e uma história, e afetar o espectador interpretando. Como você acha que deixa um pouco de você nas suas atuações?
Acho que é um pouco das duas coisas: estou a serviço da personagem e a personagem também me atravessa. Deixo um pedacinho de mim nas personagens, sim. O ator trabalha com empatia, sempre se colocando no lugar do outro para conseguir dar vida a uma personagem. Ser atriz é ter que trabalhar muito a escuta. E também ser escritora, tradutora é muito mágico. São maneiras de deixar portas abertas, mundos a explorar, e a gente sempre tem uma troca infinita de experiências e saberes. E acho que sou uma pessoa melhor a cada trabalho que termino.
Qual o maior aprendizado de afeto que você carrega?
Acho que ele vai se transformando ao longo da vida, mas a convivência com os meus pais me ensinou muitas coisas importantes nesse lugar do afeto. O que mais aprendi como eles é que eu devia ser humilde e ouvir mais do que falar. Quando você escuta, devolve com mais afeto e mais generosidade.
A gente se defende tanto das coisas, o tempo todo, que às vezes a gente se blinda e não escuta. Estamos vivendo um momento em que a escuta é primordial. Só escutando o outro você vai entender as coisas e vai conseguir devolver de uma forma que faça sentido. Não é só uma reação. Aprendi muito isso convivendo com eles, tanto nos conflitos quanto acompanhando a carreira de dois grandes atores. Cresci em coxia, via muito como o método de trabalho fazia com que eles fossem pessoas mais generosas nas relações pessoais deles. Essa foi a maior aprendizagem que eu tive.
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