Qual a boa? Com Amanda Vasconcelos

por Larissa Saram

Quando veio do Acre para estudar arquitetura em São Paulo, em 2011, Amanda Vasconcelos logo se adaptou. A personalidade cosmopolita e seus melhores amigos, que já moravam na capital paulista, fizeram com que ela se sentisse confortável desde o primeiro dia. No entanto, uma saudade persistia: a da comida. E foi por isso que Amanda começou a cozinhar. Primeiro, para pessoas próximas. Depois, em seu restaurante, a Casa Tucupi, um dos endereços mais interessantes da cidade, que reúne culinária, arte e design de joias, e que tem a região norte do Brasil como protagonista.

Entre a mudança de casa e a rotina puxada de chef e empresária, ela descolou um tempinho pra contar sobre sua infância, o começo da carreira, ativismo e as influências que alimentam seus múltiplos interesses.

A comida sempre teve um espaço especial na sua vida?
A cozinha já me atraia desde a infância, gostava de olhar as pessoas preparando  a comida. Passava muito tempo na casa da minha vó e tenho lembranças de vê-la fazendo uma sopa com as sobras do almoço, pra gente jantar. Lembro de, à tarde, ir com a minha irmã numa malharia chamada Japonesa, que vendia tacacá. Para você ver como lá no Acre o tacacá é tipo pipoca, vende em barraquinha, na praça. E também não esqueço de um barzinho que meu vô frequentava e que vendia rabada no tucupi. Até hoje é uma das minhas receitas preferidas.

Você veio para para São Paulo quando tinha 20 anos, para estudar arquitetura. Como aconteceu a mudança para a gastronomia?
Escolhi estudar arquitetura por influência das revistas que minha mãe comprava. Passava um tempão folheando, vendo as decorações. Comecei o curso no Acre e depois quis continuar em São Paulo. Minha mudança não foi nem um pouco difícil, me adaptei logo no primeiro dia. Só sentia falta da comida. Para matar as saudades, meus pais mandavam os ingredientes de avião e no isopor vinha farinha açaí, peixe, tudo que eu gostava. Aí cozinhava para mim e para os meus amigos. Nesse início, eram criações autorais. Os jantares viraram eventos e depois de quase seis meses, percebi que as pessoas se interessavam em saber o que era típico. Então passei a fazer as receitas da minha família.


E quando veio a decisão de transformar tudo isso em negócio?
Os eventos começaram em novembro de 2015. No final de 2016, recebi um convite para ocupar a cozinha temporária do Mirante 9 de Julho [espaço cultural que fica na região central de São Paulo]. Fiquei lá por 3 meses e vi que todos os dias tinha público pra comer esse tipo de comida. Entendi que ali existia um potencial. 

A Casa Tucupi, além de restaurante, é um espaço que música, exposições. Esses são universos que também são importantes pra você?
Ter esse espaço múltiplo vem da minha essência. Sou inquieta, gosto de arte, de ir para exposições, de produzir joias. Você vai encontrar de tudo na Casa Tucupi, e tudo que encontrar tem a ver comigo e com a minha vida. É legal perceber que estou apresentando essa cultura nortista, acriana, para as pessoas, e que vai além da comida, acho rico ser essa ponte entre um estado que é tão longe, sem precisar sair de São Paulo.

A equipe do restaurante é majoritariamente feminina. Por quê?
Quando abri a Casa Tucupi, só trabalhavam mullheres lá. Hoje não é assim porque abri um bar, o Sobrado Tucupi, e, para a nossa segurança, é bom que tenha um homem. Falam que o lugar de mulher é na cozinha, mas nunca como chef, nunca dentro de uma cozinha profissional. Temos que dar mais oportunidade para elas e tento trabalhar com as minorias o máximo possível.

Você tem sido reconhecida como uma figura de destaque na gastronomia contemporânea do país. Qual é a sensação?
Os planos da vida são loucos, jamais imaginei isso para a minha vida e me sinto alegre. É legal também para a minha família ver que consegui, eles eram contra de eu vir para São Paulo, me achavam muito criança. Quero cada vez mais levar essa sementinha de que o Brasil vai além, que a culinária do Norte é riquíssima, e mostrar que esses ingredientes típicos podem ser consumidos de outras maneiras também.


O que ler?

“A insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera, é um romance que marcou a minha chegada em São Paulo. Fala sobre quase tudo da vida e me deixou encantada com o peso e a leveza de cada personagem. E tem também o “Ceviche: Peruvian Kitchen”, de Martim Morales, que foi um dos primeiros livros de culinária que consultei quando comecei os eventos, fala sobre as diversas formas de preparar um ceviche.

O que ouvir?

Qualquer álbum do Saulo Duarte e Daniel Groove porque são músicas que remetem a minha chegada em São Paulo e me dão uma nostalgia gostosa.

O que assistir?

Fugindo da cozinha, vou recomendar a minha série favorita da vida, “Twin Peacks”. É uma viagem viciante!

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