“Hibisco Roxo” da Chimamanda Ngozi Adichie é um desses livros que são difíceis de ler, mas não porque não é bom, mas porque a temática é tão densa que você fica carregando o livro com você o tempo todo. Eu demorei quase o dobro do tempo normal para ler porque parava as vezes (e falava sozinha!) e ficava pensando nessa outra realidade que existe (tão distante, ali do lado), na Nigéria. Quantas vezes a gente lê um livro que nos faz encarar o quanto somos privilegiados, e também o quanto outras culturas podem nos oferecer que nós nunca sonhamos? Foi assim ler esse livro.
“Hibisco Roxo” é a história de Kambili, uma menina nigeriana que é rica, estuda em uma escola particular e de família fervorosamente católica. Do lado de fora, todos a vêem como uma menina privilegiada, mas a realidade dentro de sua mansão é bem diferente: o pai é um fanático religioso abusivo, que pela menor transgressão, real ou imaginária, agride a mulher e os filhos. É impactante ler as monstruosidades que esse pai comete, e ao mesmo tempo Adichie consegue criar um personagem complexo, que tem virtudes também. No começo da narrativa, Kambili é tímida, e dado o cenário de terror que vive e que não deve ser descoberto por ninguém fora de sua família imediata, e solitária, só contando com a companhia do irmão, Jaja, e da mãe. A menina tem medo até dos próprios pensamentos. Mas a entrada de sua tia, Ifeoma, e seus primos, Amaka e Ibiora, de forma mais abrangente nas vidas dela e do irmão, traz grandes mudanças -ajuda os irmãos a verem novas possibilidades, e a começarem a se formar como pessoas independentes. A autora não coloca panos quentes em nada: a situação política e educacional da Nigéria também estão presentes na história e são tratadas com tanta clareza quanto o abuso sofrido pela família de Kambili.
Apesar de ainda ser cedo para dizer, acho que esse é um dos livros mais importantes que li em 2017, por várias razões, mas principalmente porque me deixou com vontade, aquele foguinho que nasce dentro do peito, de fazer alguma coisa de verdade para ajudar a mudar o mundo: o quê ainda não sei, mas sei que vai ficar comigo isso e que não vou deixar ir embora e vou procurar onde posso contribuir, por menor que seja esse papel. Depois de ler “Hibisco Roxo“, assisti a palestra que Chimamanda Ngozi Adichie deu no TED sobre feminismo, um assunto no qual é ativista, essa sua palestra foi transformada em um manifesto –“Sejamos todos feministas”, que se tornou amplamente divulgado e conhecido (ainda não li, mas pretendo. Vamos?). Esse foi um dos motivos pelo qual quis falar desse livro esse mês, no qual celebramos o Dia Internacional da Mulher, porque nós como mulheres muitas vezes aceitamos as normas sociais vigentes como algo imutável, nós as vezes nos oprimimos umas às outras sem saber o que há por trás de nossas fachadas brilhantes do Instagram e das nossos reluzentes posts no Facebook. E quanto mais privilegiadas, mais longínqua a necessidade de questionar, de trazer para perto essas coisas incômodas como preconceitos e olhar de frente para elas. Vamos parar com isso, sejamos feministas, e mais, sejamos humanos!
Aqui no blog, todo livro tem uma receita e confesso que sofri um pouco ao pensar em comer as receitas que aparecem no livro — realmente não é o tipo de comida que eu curto, então segue aqui uma adaptação do fufu africano: bolinhos de batata doce. Façam junto com seus filhos e maridos, comam conversando e, sugestão controversa, dessa vez, deixe a louça para os meninos.
Bolinhos de Batata Doce para Kambili (serve até 4 pessoas)
Ingredientes:
300g de batata doce cozida e amassada
100 g de farinha de trigo com fermento
1 pitada de sal
Salsa, cebolinha e cebola
1 ovo
Óleo para fritar
Modo de Preparo:
Misture os ingredientes em uma tigela, por último a farinha de trigo.
Faça bolinhos com esta massa modelando com 2 colheres.
Aqueça o óleo em fogo médio, quando estiver quente, jogue os bolinhos e frite até que fiquem dourados por fora.
Coloque em uma travessa forrada com papel toalha para drenar a gordura excedente. Sirva quentinho!
Deve ficar gostoso misturar na massa um queijo ou uma calabresa picadinha! Da próxima vez, vou experimentar. 😉