Subimos rumo às montanhas do Japão em busca de paisagens diferentes e para ver de perto tradições e culturas milenares que os nossos amigos ocidentais fazem questão de preservar. Se em uma cidade grande como Tóquio a gentileza e os costumes locais nos encantaram, viver um pouquinho do interior do país foi uma experiência totalmente enriquecedora.
Pegamos o famoso trem bala na movimentadíssima estação de Shibuya e em cerca de quatro horas, na estação de Takayama, o clima era completamente diferente. Não falo só da temperatura, que estava bem mais baixa, como também da atmosfera de cidade pacata de interior.
Apesar do friozinho, o dia era de sol, o que proporcionou um agradável passeio de reconhecimento da cidade. Caminhando pelas ruas próximas à estação no meio da tarde de um dia de semana comum, tinha a sensação de que era domingo ou feriado. Ruas vazias, poucos carros trafegando e pouquíssimos restaurantes abertos. O ritmo de Takayama é totalmente diferente da loucura de Tóquio. A maior parte das lojas e restaurantes abre cedo, fecha no meio da tarde e alguns deles abrem novamente à noite, no horário do jantar. Felizmente, as conveniências salvam quando a fome aperta e não há nada aberto.
O Centro Histórico é um dos lugares mais movimentados de Takayama, onde se concentram templos, feiras matinais, lojas e restaurantes da região. É perfeitamente possível fazer tudo a pé, mas vale muito a pena alugar uma bike e pedalar pelas inúmeras pontes sobre o rio Miyagawa, que corta toda a cidade, e descobrir sem querer belíssimos templos completamente vazios.
Pelas charmosas ruazinhas de Takayama se espalham construções de arquitetura centenária, que parecem fazer parte parte de um cenário de filme antigo. Segundo os locais, tudo permanece como era na época de seus ancestrais. O cuidado a gente vê de longe: plantinhas na janela, limpeza impecável e muito, muito charme.
Foi do desejo de conhecer um pouco mais essas construções antigas e tradicionais que decidimos seguir de Takayama para a incrível Shirakawa-go, uma aldeia famosa por suas típicas casas em estilo gassho, cercada por montanhas e florestas.
Em menos de uma hora chegamos ao vilarejo e avistamos as famosas casas de madeira com telhados de palha de arroz em forma de triângulo. Essas coberturas chegam a medir 4 metros de espessura e sua troca precisa ser feita de tempos em tempos, de acordo com o desgaste natural.
E até no momento dessa troca as tradições se mantêm presentes. A construção dos telhados é feita pelos próprios moradores locais e também mobilizam voluntários de todo o país. Um trabalho duro feito em comunidade, com toda uma eficiência e técnica japonesa só poderia resultar em perfeição e originalidade.
Visitei o interior da casa da família Nagase, construída em 1890, e fiquei impressionada com a preservação do lugar. A casa de cinco andares abrigava um espaço de convivência para a família, com quartos e salas, quarto de empregados e dois andares de salas de trabalho, dedicados à criação de bicho da seda e à fabricação de produtos a partir da matéria prima obtida dos insetos.
Para encerrar o passeio pegamos um pequeno ônibus que nos levou até o mirante de Shirakawa-go , de onde podemos ver toda essa obra de arte de um ângulo privilegiado.