A cantora Céu e seu “Tropix” ganharam todos os prêmios importantes da música em 2016 e isso é justíssimo. Céu é artista consagrada e lançou um dos melhores discos do ano. Mas vou usar este espaço pra falar de Liniker, outra artista, da novíssima geração de bons músicos da MPB, que redefiniu questões importantes em 2016.
Ela surgiu na internet ano passado, 2015, com apenas três vídeos. Pra se ter uma ideia do ‘estouro’, em uma semana um dos vídeos já tinha mais de um milhão de visualização e isso é muita coisa. Foi impossível não se envolver por aquela voz potente e não se encantar por aquela artista “preta, bicha, que usa brinco, batom e turbante com roupas que são femininas em um corpo masculino”.
Aos 20 anos, nascida em Araraquara, interior de São Paulo, numa família completamente musical, Liniker é hoje uma das artistas mais importantes da “MPBTrans”, termo cunhado pelo deputado federal Jean Wylly, que implica num movimento estético e político capaz de quebrar estereótipos sobre gêneros e tabus. Liniker ganha ainda mais importância se formos analisar que este trabalho está “bombando” num momento em que muitos preconceitos têm vindo à tona e sido disseminado através das mesmas redes sociais que projeta cada diz mais esta artista que se apresenta, e ganha cada vez mais fãs, exatamente como é sem medo de se expor e sem se preocupar com opiniões alheias.
“Muitas pessoas perguntam sobre gênero, sobre visual. Mais do que ser exemplo, é ser referência. Levar tudo isso para o palco faz com que muitas pessoas se sintam representadas ali. Esse é o mais importante. A gente pode tudo sim“, afirma engajada.
Seu disco de estreia, “Remonta”, foi lançado este ano e por onde passa os ingressos esgotam-se. O primeiro programa de rádio que Liniker se apresentou foi o Faro MPB, na rádio MPB FM, e tive o prazer de entrevistá-la. Nervosa, Liniker contou que cresceu ouvindo rádio e que muito se inspirou em artistas que lhe foram apresentadas pelo veículo como Alcione e Tulipa Ruiz.
Fizemos um ping-pong, jogo rápido exclusivo com Liniker:
Um artista brasileiro: Elza Soares
Um sonho: propagar cada vez mais nossa arte e ocupar cada vez mais os lugares com ela
Uma frustração: ainda não ter me engajado num instrumento, quero muito tocar
Uma música que te representa: “Oldboy”, da Tulipa Ruiz
Um desejo pra 2017: alcançar cada vez mais esses espaços e que cada vez mais estejamos mais unidos, não só eu com a banda, mas as pessoas em comum
Liniker por Liniker: é isso…
A música é em essência libertária. A música popular brasileira sempre permitiu a emergência de artistas – compositores e intérpretes – que cantam as liberdades individuais e a justiça social, sobretudo quando estas estão ameaçadas. Nada mais coerente que artistas como a Liniker apareçam e se destaquem neste momento no país. Que em 2017, tenhamos muito mais bandeiras levantadas e que entendamos que política só se faz inserida no dia a dia.
Evoé! Feliz Ano Novo! 🙂
créditos das fotos: Ibira e Leila P.