“Toca Maria Bethânia pra ela, mostra que tu é intenso“, recomenda Clara, personagem da diva Sônia Braga para o sobrinho no filme “Aquarius“. Esta frase já diz muito sobre a trilha sonora do excelente longa de Kleber Mendonça Filho. Ao contrário de muitas trilhas, as canções escolhidas para embalar personagens e emoções em Aquarius não servem apenas como fundo de época (o que se ouvia na década de 80), elas ditam um posicionamento diante da vida tornando-se personagem fundamental da trama.
Tão importante quanto a história de Clara, a trilha de “Aquarius” (ouça aqui) se propõe a fazer uma viagem ao som dos anos 1970 – período em que a personagem atuou como crítica musical e que ela indica no filme ser sua década preferida.
Logo nos primeiros minutos de Aquarius, um arranjo de orquestra, acompanhado da bateria marcada da black music, invade as caixas de som. A grandeza do arranjo da música “Hoje”, de Taiguara, canção gravada em 1969, inicia e encerra o longa.
Em outra cena, a mesma Clara, quando entrevistada por um jornal, mostra a capa de um dos LP’s de sua coleção ressaltando que apesar dele ter sido lançado há 41 anos, parece que foi lançado nos dias atuais (anos 80). O álbum exibido no filme é o primeiro e único do grupo Ave Sangria, lançado em 1974 – e recolhido por ordem da censura.
O “rei” Roberto Carlos é uma das grandes e gratas surpresas da trilha. A canção “O Quintal do Vizinho”, uma das menos óbvias de seu cancioneiro, embala Clara no meio da sala após um encontro malfadado. A trilha de “Aquarius” tem ainda “Meu Recife” (Reginaldo Rossi), Pai e Mãe (Gilberto Gil), Nervos de Aço (Lupicínio Rodrigues), Sufoco (Chico da Silva/Antônio José) e tantas outras.
Corra pro cinema. “Aquarius” é imperdível! 😉
