carioca aterrisa em SP

por Cantão

Quando o interfone tocou 13:55, e a voz do porteiro disse que o carro havia chegado, minha temperatura passou a 37º C. Explico: era meu primeiro dia como moradora de São Paulo e eu iria gravar um vídeo pra Trip Tv. A produção disse que um carro me pegaria às 14h. Como capricorniana com ascendente em virgem e lua em touro, já estava preparada desde 13h (oh, uau, como você é assim, Letícia? – Mercúrio e vênus em aquário ajudam, mas sou bastante chatinha nas questões cotidianas, quem convive comigo sabe).

Quando o interfone tocou faltando cinco minutos para o horário combinado, senti a formação da lágrima na bolsa do meu olho. Fosse no Rio, como já ocorreu inúmeras vezes, o carro da produção iria chegar 14:30, possivelmente nem pediria desculpas, já que é considerado normal um atraso de “20 minutinhos” na cidade maravilhosa. Maravilhosa? Sim, maravilhosa natureza. Que possibilidade é essa de estar numa floresta em meia hora? Fiz grandes passeios na Floresta da Tijuca, recuperei energias naquele espaço. O famoso mergulho entre compromissos. E não, não é só pra morador da zona sul. Sou tijucana e durante anos saía com uma mochila cheia de possibilidades: de biquíni até um traje de gala.

O Rio tem surpresas. A parte ruim era voltar com o cabelo molhado pós-praia no metrô gélido. O que é o ar condicionado do novo vagão do Metrô Rio? Mesmo com 40º C, é bom ter um capotinho, como diz minha vó Marphisa. O metrô de São Paulo me emociona, mas já me deram o toque que só vou me localizar, andando de ônibus mesmo. Faz sentido. O caminho visual ajuda. Lá embaixo é puro túnel. Túneis! As baldeações são tamanhas, e toda vez que faço uma aqui em SP (nenhum paulistano fala Sampa, assim como é muito raro um carioca falar Arpex, risos), me animou muito. O metrô do Rio é uma tripa. Duas tripas, quer dizer. Limitado, lamentável.

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Com todos que puxo papo, da moça do supermercado até o motorista do taxi ou do uber, todos me dão boas-vindas e desejam sorte. Nem todos são daqui, mas já moram aqui há tanto tempo que se apropriam da cidade e se sentem parte dela. São Paulo permite isso, e é gostosa essa sensação. Esse texto vai acabar generalizando pois não fosse assim, não poderia relatar minha experiência do meu ponto de vista, sei que há casos e casos, não sou radical. Mas há uma emoção em sair pra comer por aqui. Como carioca, estava acostumada a gastar quase uns 80 reais num jantarzinho de bobeira com o namorado ou amigos lá no Rio. E infelizmente, muitas vezes, nem gostar tanto da comida. Pra gostar, tinha que ir em restaurante que sairia por 120 pilas. Sim, também sei dos segredinhos da cidade, mas são tão poucos e às vezes você quer ousar. Aqui você sai, experimenta um dos melhores ceviches num restaurante peruano bem roots, come um balde de ceviche e deixa 34 reais na mesa. Impressionante. Empolgante.

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O frio dói na cara, cogito ter luvas, minha amiga me emprestou um par, devo comprar um aquecedor. A gente não sabe o que é frio no Rio, não sabe. O lance aqui é cruel. Andando na rua, sinto que sabem que sou carioca, tamanho mix maluco de cores & cachecóis & moletons & três meias & casaco em cima de casaco.

Ainda tem muito mais pra falar, pra viver, pra mergulhar nessa cidade que não tem mar, mas tem gente pra dedéu, tem espaço, tem parque, tem possibilidade, mais de 5 shows por noite, mais de 7 festas por final de semana, tô animada. Já tinha crush por São Paulo há um tempo. Deu match. É bom realizar. Clarice Lispector dizia que “as realizações matam os desejos”, mas acho que pra caprina aqui, preciso da terra, preciso da realização. Está acontecendo.