O primeiro semestre de 2016 está movimentado na vida de Natasha Llerena. “Estou parindo”. Grávida de seu primeiro filho e lançando digitalmente seu primeiro disco, a cantora que iniciou sua jornada na Banda Novíssimos, está vivendo um turbilhão de emoções na vida pessoal e carreira solo.
A estreia do álbum “Canto Sem Pressa”, cheio de originalidade e sensibilidade, traz uma nova fase na vida da carioca, que já firma seu lugar no cenário de novas vozes da mpb. A novidade traz no nome a relação da artista com a criação: um processo de esmero e depuração do fazer artístico.
Dá o play pra escutar uma palhinha e veja nossa entrevista com ela:
Hoje é o lançamento do seu primeiro disco “Canto sem Pressa”. Como foi chegar até aqui e todo esse processo criativo?
Esse disco é uma grande parceria minha com o Eduardo Andrade. Na verdade, o processo começou comigo há 4 anos atrás. A partir deste encontro, viramos grandes parceiros (de vida). Ele traz várias ideias e eu desenvolvo o todo junto com ele. Eu acabo puxando o bonde, sendo a porta-voz, mas tem muita gente por trás lapidando esse trabalho.
E eu trago as minhas vontades e também aponto qual o caminho certo dessa parte criativa e de finalização. A parte mais técnica, como mixagem e masterização, já ficam mais por conta dele. Mesmo me envolvendo, acabo mais coordenando mesmo para tudo ficar mais autêntico e com o resultado que estamos idealizando.
E como tem sido essa nova fase musical?
Acho que agora tivemos a oportunidade de realmente fazer um trabalho bem pensado, dentro das coisas que a gente acredita artisticamente. Já tínhamos experimentado muito em shows, mas durante a produção do disco, as coisas ganham outra proporção, não só musical. A partir disso, muitas coisas se desdobram. Tem um trabalho estético forte também. O que a gente traz e quer incorporar de fato é a questão da dança performática, que é bem característico na minha expressão também.
A gravidez influenciou em alguma instância a sua criatividade?
Sempre fui uma pessoa muito sensível. Acho que a gravidez está me trazendo mais foco. É um tempo biológico que está acontecendo dentro do meu corpo, que faz com que as coisas tenham que se organizar para que eu possa estar mais preparada pra criar e ser mãe. Foi forte porque foi no mesmo mês que eu comecei a engravidar. As gravações e o processo começaram, iniciou também um processo de gestar, preparar.
É engraçado, a diferença de gestar uma criança é que é algo que acontece no nosso corpo de forma natural e biológica; gestar um disco é completamente diferente, é algo que requer muito, muito trabalho. Então foi interessante administrar esses dois tipos de gestação: muitas escolhas, muitas atitudes, muita ação. A gestação é muito orgânica, mas não tem muito controle. Já o disco requer disciplina e produção efetiva. Tem sido muito cansativo, mas estou precisando parir! Quero muito que as coisas comecem a sair de mim! (risos). Ansiosa e muito feliz com esse processo final. Vai nascer!
Você participou recentemente do sarau Meninas do Brasil, com um time de cantoras incríveis! Conta mais sobre como você se envolveu com esse projeto.
Esse projeto foi idealizado pela Luiza Salles, que é cantora e compositora. Basicamente o que a impulsionou foi que ela se viu sozinha no mercado de compositoras. Ela queria compor, mas só conhecia homens que tinham esse viés da composição e se perguntou onde estavam as mulheres. Daí ela decidiu criar o projeto. Eu admiro muito a força dela porque ela uniu pessoas – eu não conhecia muitas das participantes. Moramos na mesma cidade, no mesmo país, mas sequer nos conhecíamos. E tem meninas muito talentosas!
E então quando o projeto virou um sarau e um show, que efetivou essa união. Inicialmente eram vídeos. A Luiza ia na casa das compositoras para gravar uma música da compositora e uma dela. E aí lança na internet, que é legal que puxa uma rede e democratiza pra todo mundo ouvir. Mas quando rolou o sarau, nos sentimos muito unidas. Foi muito generoso esse lugar de cada uma ceder espaço pra outra, uma estudando e cantando a música da outra… no próximo serão apenas mulheres.
Tudo a ver com o momento tão importante que estamos vivendo, que traz o feminismo em pauta.
Normalmente as mulheres estão neste lugar da cantora – o que é maravilhoso – mas se formos pensar quem são as referências de compositores brasileiros, são apenas homens: Caetano, Gil, Chico Buarque, Ivan Lins, Dorival Caymmi. É essa a lista que está aí pro mundo. Nunca foram nomes como Rosa Passos, Joyce, Dolores Duran. O destaque nunca foi pra essas mulheres talentosas, não foi o que se firmou como referência. Por isso, acho que não teve melhor momento pra realizar esse projeto, sabe? Nós, mulheres, também temos muito a dizer. Nós escrevemos, compomos, cantamos… estamos aqui!
Como você escolhe seus figurinos pros shows?
A gente sempre tenta criar uma coerência artística, a partir de agora as coisas vão mudar um pouco porque trouxemos a estética da terra. O “Canto Sem Pressa” fala muito sobre essência, voltar a si mesmo, se reconectar, então trouxemos o elemento barro para desdobrar para os figurinos. Antes disso era apenas uma questão estética, e claro, as roupas precisavam ser leves, pra conseguir me movimentar.
Lugar que é a sua segunda casa, pra onde você corre quando está buscando inspiração:
Eu gosto de ir pro mato! É onde me sinto melhor. Tenho uma casa de família em Visconde de Mauá, que eu consideraria minha segunda casa de tudo: de relaxamento, de me sentir bem, de renovar minhas energias.
O que não sai da sua playlist?
Minhas referências são o Tcheka, um compositor e cantor de Cabo Verde, assim como a Mayra Andrade. As pessoas sempre vão me ouvir falando dela. Tem também o Avishai Cohen, que é um baixista. A Regina Spektor, que eu amo a maneira dela de cantar, e também a fadista Carminho. Sempre tive uma influência forte do Brasil, claro, mas minhas referências também tem um quê africano. Gosto muito da fluidez que eles tratam a música.
Viver Bem pra você é….
Viver em paz, ter calma todos os dias, saber lidar com todas as situações com calma. O que é um grande desafio hoje em dia, com toda essa movimentação na cidade. É meio cafona, mas eu acredito nisso. Quando temos paz interna podemos fazer qualquer coisa.
Quer ouvir o “Canto Sem Pressa”? Clique aqui e faça o download agora mesmo! E já marque na agenda: dia 05 de maio às 19h30, tem show de lançamento do álbum: no Teatro Serrador – Rua Senador Dantas, 13 – Centro.