Eles começaram a tocar juntos no final de 2010. A ideia inicial era fazer versões de clássicos jazzísticos. Um ano depois, a Baleia já misturava rock com afrobeat e aquela ideia inicial foi dando lugar pra aspirações mais genuínas. Formada pelos músicos Sofia Vaz, Gabriel Vaz, Cairê Rego, Felipe Ventura, David Rosenblit e João Pessanha – a filha de Tom, Luiza Jobim, é ex integrante do coletivo – a banda acaba de lançar seu segundo álbum, Atlas, sucessor de Quebra Azul (2013).
Ouvi o disco várias vezes pra entrevistá-los. É necessário tempo pra se deixar seduzir pelo trabalho. Vocais em coro, percussão tribal e versos caóticos estimulam o ouvinte a entrar na viagem da banda que se autodefine como indie ostentação. Não é fácil explicar o som da banda sem escutá-los. Nem eles conseguem definir (será que precisa?) o que produzem. “Tentamos fazer uma espécie de rock alternativo bastante influenciado pelas dinâmicas das músicas de concerto. Só que agora que eu disse isso, isso já me parece completamente incoerente e incompleto. É muito difícil sintetizar o som de seis pessoas tocando, com influências tão plurais, e criar um termo que abarque tudo que a gente deposita no nosso trabalho”, tenta explicar Gabriel Vaz, irmão de Sofia.
Na contramão da maioria dos artistas desta geração que desde o início do processo já vê o disco como um produto completo – combo “estúdio-palco” – a Baleia “pensa” o trabalho a partir da qualidade sonora. “Sempre que fazemos um disco ou gravamos alguma coisa, nunca pensamos em como vamos tocá-lo no palco. Queremos criar a melhor experiência auditiva para nossas ideias, mesmo que a gente precise colocar trinta violinos com mais 50 instrumentos de sopro sobre uma base eletrônica”, explica Gabriel. E aí que transformar CD em show não é tarefa fácil pra banda embora seja estimulante. “Traduzir toda essa loucura pro palco é um processo criativo posterior mas também muito divertido. Sempre descobrimos novas dimensões para as músicas quando temos que nos virar para transformá-las em um formato ao vivo. Acontece também de algumas músicas que no disco “passavam batidas”, no palco crescerem imensamente e virarem nossas favoritas”, afirma.
A única integrante feminina da Baleia é a talentosa Sofia Vaz. Com feições delicadas e mignon, engana-se quem pensa que ela é frágil e doce. Perguntada sobre como é ser a única mulher no meio de uma banda de cinco homens, Sofia é taxativa: “É isso, tem eu e mais cinco. Somos seis pessoas”. Num momento em que as mulheres ganham cada vez mais voz, Sofia acha que ainda falta muito pra igualdade de gêneros. “Somos duvidadas da capacidade de ser, pensar e fazer todo o tempo. Isso não mudou. Assim como somos continuamente colocadas em comparação de gênero – como “diferentes”. Como se o gênero tivesse alguma relevância no trabalho. Isso tudo é um reflexo do pouco que fazemos para ativamente mudar esse cenário. Ainda há resquícios dos mesmos velhos padrões de pensamento”, afirma.
A banda é a aposta da rádio MPB FM neste mês. São os artistas Faro MPB de abril e apesar de serem de uma geração super conectada e de terem visto seu trabalhar se disseminar e conquistar fãs graças ao alcance das redes sociais, os músicos da Baleia acreditam que tocar em rádio sempre será importante pra todo artista. “Por mais que estejamos num momento em que os veículos de grande alcance sejam pouco convidativos às novidades e ao mercado independente, o rádio ainda une as pessoas. É um canal coletivo de fácil acesso onde se cultiva um senso de comunidade e uma dimensão da cultura popular”, diz Gabriel.
A Baleia é uma das bandas queridinhas do público carioca e se eu fosse você baixaria o disco agora e aproveitaria as temperaturas mais amenas deste outono pra uma boa audição. Ahhh, e também ouviria o Faro MPB todas as quintas: a música Duplo Andantes vai abrir os trabalhos musicais durante todo mês de abril.
Baixe o disco aqui!