Manu Alves sempre teve um jeito especial de lidar com a arte. Tudo começou aos 14 anos, quando saiu de Pirituba (interior de SP) e foi morar na Inglaterra, onde seu pai fazia mestrado.
No primeiro dia de aula, a professora se apresentou em um trailer, no meio do pátio, e começou a desenhar no quadro negro, olhando para a turma e falando sobre a beleza etérea das artes plásticas. Do rabisco, surgiu um desenho realista de si mesma.
Foi então que começou a nevar, e tudo se transformou. Daquele momento mágico em diante, Manu decidiu pintar tudo o que veria pela frente. A memória dos flocos de neve virou tatuagem — e os traços, sua maior obsessão de todos os dias.
Além de mostrar seu talento colorindo as estampas do Cantão, ela também dá seus primeiros passos no cenário artístico carioca, participando de exposições inovadoras como a Atemporal, com curadoria de Antonio Bokel. Conversamos com ela para saber um pouco mais sobre suas inspirações:
Conta mais sobre você e sua relação com a arte:
Já não consigo (e nem quero) me imaginar fazendo outra coisa da vida. Trabalhei em alguns lugares fazendo de tudo um pouco, mas sempre relacionado à ilustração e claro, estamparia. Em paralelo, sempre produzi e estudei muito, e sempre tive muitos projetos pessoais, a grande maioria deles são voltados para o mercado de arte, o que me levou a expor em 2014 e agora, em 2015, a convite do Bokel, pelo Espaço Atemporal.
Já é a segunda vez que você participa da Atemporal, ao lado de grandes artistas plásticos – inclusive seu namorado, o (Rafa) Mayer. O que podemos esperar dessa segunda colaboração?
A coletividade dos envolvidos é incrível, todos os artistas sempre trocando muito, debatendo ideias e colaborando com todo o processo da exposição. A primeira edição, no Espaço Apis, ano passado, estava linda, foi onde tudo começou e onde vimos o potencial de cada um. Nessa edição, estaremos na galeria de arte Graphos, que abriu as portas e abraçou o projeto com muito carinho. Posso dizer que essa edição será ainda mais especial, percebe-se um diálogo maior entre os artistas no espaço, e transmite com perfeição a identidade de cada um. A expo está linda, vale muito conferir.
Além da obra principal, você também criou um manifesto. Você costuma escrever sobre arte?
A obra que apresento faz um alerta à sociedade. Escrevi um texto para transmitir essa mensagem durante a exposição. Minha crítica é sobre a falta de percepção e sensibilidade em relação à fauna e flora, dos valores invertidos e valores inexistentes. Sobre um último grito de socorro. Ao meu ver, a natureza tem que ser vista de perto. Meu trabalho busca aproximar o espectador à tela, de modo que consiga enxergar os detalhes que estão presentes na obra. Minha intenção assim, é transmitir ao observador a ideia desta aproximação e percepção para a natureza fora da galeria…
Os pássaros são temas recorrentes no seu trabalho. Ao ver sua arte é a primeira coisa que vem em mente. Por que seres alados?
Não sei responder ainda, ainda estou entendendo a razão dessa obsessão. Acho que são muitos motivos, mas o maior deles que descobri é a leveza. O tempo parece parar quando observamos tantos detalhes no ar.
Com o que você se inspira?
Busco minhas referências em livros de fotografia, arte e documentários sobre fauna e flora (não importa qual a temática, adoro todos, podia passar horas assistindo um documentário sobre mosquitos).
Uma frase que você leva pra vida:
É um “pedaço de poema” que escrevi:
“Não passaria a vida como passo a roupa que visto.
passa roupa, passa vida.
vida passa.
Roupa,
amassa.”
Quem quiser conhecer mais sobre a ilustradora dos traços delicados, pode seguir a fanpage da moça e claro: não deixar de aproveitar a expô Atemporal na Graphos, que começa amanhã. Todos seus trabalhos são lindos de ver! 😉