Uma das séries mais comentadas e premiadas da atualidade, Succession (criada por Jesse Armstrong) estreou em 2018 na HBO e está chegando à sua quarta temporada com mais de uma centena de premiações na bagagem. Nela, acompanhamos uma família de bilionários, a família Roy, liderada pelo patriarca Logan, interpretado pelo excelente Brian Cox. Aliás, antes de mais nada, é preciso dizer que o elenco inteiro entrega atuações impressionantes, guiados por um roteiro afiado, que faz críticas agudas de forma nada moralista e a cada episódio ganha mais nuances.
Entre os quatro filhos de Logan estão Connor (Alan Ruck), o mais velho e menos respeitado; Kendall (Jeremy Strong), uma das figuras mais complexas e interessantes da série; Shiv (Sarah Snook), a única mulher entre eles, que desafia diversos estereótipos de gênero e carrega uma ambiguidade instigante; e, por fim, o caçula Roman (Kieran Culkin), talvez o mais divertido de acompanhar, agindo ora de forma perversa, ora de forma no mínimo inusitada.
Como adjuntos da família Roy, temos a atual esposa de Logan, Marcia (Hiam Abbass); a ex-esposa de Logan, Lady Caroline Collingwood (Harriet Walter); a ex-esposa de Kendall, Rava (Natalie Gold); o primo Greg (Nicholas Braun); o marido de Shiv, Tom (Matthew Macfadyen), entre outros, todos ótimos. Também não posso deixar de mencionar personagens fundamentais, como Frank Vernon (Peter Friedman) e Gerry Kellman (J. Smith-Cameron). O elenco é numeroso e conta com participações especiais primorosas, cada uma contribuindo para enriquecer o hall de personagens e também o enredo, intensificando conflitos.
Se uma série que se dispõe a examinar de perto todas as tensões de uma família já daria muito pano para manga, imagine quando essa família é bilionária, dona de uma das maiores redes de comunicação e mídia dos Estados Unidos, e está em constante disputa por poder, colocando em xeque conceitos como ética e lealdade. A sobreposição desses dois campos, o campo do afeto e o campo do dinheiro, claro, é um prato cheio para que muita confusão aconteça. Succession faz um retrato muito apurado do mundo contemporâneo e de suas diversas crises, com ênfase no pensamento neoliberal, enquanto também parece atualizar alguns mitos da Antiguidade Clássica.
Mas, se a série traça uma imagem perspicaz e nada lisonjeira do tempo em que vivemos, também mergulha na psique de cada personagem e em suas relações turbulentas, tornando-se uma obra bem-sucedida tanto na representação do aspecto coletivo como do subjetivo, ambos atravessados por um constante mal-estar. Apesar disso, é irresistível de assistir. Em Sucession, a disputa possível é a de quem seria a pessoa menos odiosa da família, já que as virtudes, se existem, são raras.
No início de 2023, a HBO exibe uma nova temporada da série. O fim de ano que se aproxima parece uma ótima oportunidade para colocá-la em dia, caso você ainda não tenha assistido — ou revê-la, para ter os conflitos frescos na memória — e, assim, se preparar para os novos episódios que vêm aí.