The White Lotus: a premiada série da HBO está de volta

por Fabiane Secches

A premissa da primeira temporada de “White Lotus” (HBO) é a seguinte: alguém foi assassinado num resort luxuoso no Havaí. Então o tempo retrocede e passamos a acompanhar a chegada dos hóspedes da vez, recebidos por um funcionário gay, uma funcionária negra e uma estagiária nativa, enquanto tentamos adivinhar quem morreu e quem matou. O grupo de hóspedes, claro, é formado por pessoas ricas e brancas, acostumadas a todas as regalias possíveis diante da posição narcísica que ocupam, num mundo que também orbita em volta do dinheiro. 

O nome do hotel, que é o nome da série, parece ser a primeira de muitas ótimas provocações: “The White Lotus” (uma flor de lótus branca, imagem que representa perfeitamente a maior parte das pessoas hospedadas). A narrativa se desdobra em dois ambientes: o dos hóspedes e o dos funcionários e o contraste entre a experiência luxuosa e os seus bastidores produz situações e reflexões muito interessantes. 

Divulgação: HBO

A série, criada por Mike White, aborda de uma forma muito inteligente questões como racismo, apropriação cultural, machismo, homofobia e mais. Com senso de humor afiado, e longe de qualquer abordagem simplista, a crítica incomoda ainda mais, porque embora seja uma sátira, é inquietantemente realista. As atuações brilhantes e os ótimos diálogos são feitos raros nas produções contemporâneas. “The White Lotus” mostra o mundo como é, não como deveria ser, mas justamente por isso talvez seja um instrumento valioso para promover conversas capazes de transformá-lo. 

Divulgação: HBO

A segunda temporada, que estreou recentemente também na HBO, se passa na Itália, em uma outra outra unidade da rede de hotéis, dessa vez localizada na Sicília. Apesar de apresentar novos elementos, como um elo com a mitologia clássica, novas personagens e um novo enredo (que inclui novas mortes misteriosas), também guarda um denominador comum importante com a primeira: sua estrutura e essência são as mesmas, digamos assim, misturando bem como poucos fazem uma crítica social perspicaz, com humor sarcástico, drama e também suspense. E, em ambas, temos a ótima personagem de Jennifer Coolidge presente.

Como criação audiovisual, foi uma das melhores a que assisti em muito tempo. Mereceu cada uma das premiações que recebeu – foram quase 50, entre elas 10 Emmys, nas principais categorias. Até aqui, a segunda temporada tem mantido a qualidade da anterior. Estou na torcida para que continue assim. 

Divulgação: HBO