Qual a boa? Com Stephanie Ribeiro

por Larissa Saram

É difícil não esbarrar com os múltiplos talentos de Stephanie Ribeiro. Na TV, ela desenvolve projetos cheios de personalidade e faz muita gente chorar de emoção com os ambientes renovados do “Decora“, programa do canal GNT. Em jornais, revistas e sites é comum encontrar colunas sobre feminismo negro e interseccionalidade assinados por ela. E nas redes sociais, é só rolar um pouco o feed para ser impactado por posts inspiradores da arquiteta.

“Todo indivíduo possui inúmeros interesses e fui desenvolvendo tudo o que gostava. Estudar arquitetura foi uma escolha por ficar fissurada pelos cenários dos desenhos animados. Escrever era uma forma de me conectar com outras pessoas e me sentir menos sozinha. Já apresentar foi a consequência de poder mostrar meu trabalho como arquiteta numa outra escala. E o ativismo nunca entendi como uma profissão. Se for, tira o sentido do que ser feminista negra significa para mim, que é ter liberdade”, conta. 

Na nossa conversa, além de indicações do que ler, ver, ouvir e seguir, Stephanie falou um pouco sobre a construção de seu estilo, militância e sonhos para o futuro:

Ambientes e roupas multicoloridas se tornaram sua marca registrada. Sempre foi assim?

Sou uma mulher do interior de São Paulo e nos anos 90 era comum espaços com estampas, texturas e muitas imagens na parede. Quando comecei a viajar para outros estados, como Amazonas, Rio Grande do Sul, Maranhão, vi isso também. Mas a ficha de que essa estética era importante só caiu mesmo quando passei férias em Cuba. Lá, vi casas com interiores coloridos parecidos com o que via em cidadezinhas brasileiras. Entendi que a cor é algo associado ao povo simples, latino, e que muitos querem espaços que se diferenciam disso, como se ser popular fosse sinônimo de ruim. Por isso faço uso das cores tanto nas decorações, quanto na hora de me vestir.

Quase 80% do mercado da arquitetura é ocupado por profissionais brancos. Como essa falta de pessoas negras influencia no planejamento e na construção da cidade?

Acabamos criando cidades que não são plurais. Continuamos, inclusive, naturalizando comportamentos opressores a partir do nosso desenho. É imprescindível falar como ainda são construídos quartinhos de empregada no Brasil, assim como se naturaliza que o direito ao bem estar, conforto e a cidade sejam restritos a alguns grupos. 

O que acha que podemos fazer de imediato para que as cidades se tornem espaços mais acolhedores para todes?

Participar de debates e ações de grupos de direito à moradia e de discussões promovidas por fontes sérias, como o Instituto Pólis. Também garantir que haja oportunidade para todas as pessoas que quiserem estudar Arquitetura e Urbanismo, pois o curso é elitizado nas principais universidades brasileiras e muitos sequer possuem a chance de entrar ou de se manter. E claro, assegurar que mesmo os formados disputem no mercado de trabalho vagas significativas. Não dá pros escritórios de arquitetura renomados e mesmo pros órgãos ligados ao nosso fazer não terem um debate sobre gênero, raça, sexualidade e a necessidade de cotas para incluir.

Como arquiteta e ativista dos direitos das mulheres negras, quais são os seus principais sonhos?

Ter um mundo em que pessoas negras e mulheres possam criar livremente sua própria linguagem estética e ter os meios e as chances para isso.

O que ler?

“Casa de Alvenaria”, de Carolina Maria de Jesus. Esse livro me pegou bastante. Acho importante ler o desfecho da vida de Carolina após o sucesso de “Quarto de Despejo” [primeiro livro da autora]. É nítido que ela era uma mulher inteligente, mas também solitária num mundo em que mulheres negras como ela são renegadas a um lugar em que não existem muitas escolhas. 

O que ver?

Primeira temporada de “Por Que As Mulheres Matam”. Fiquei apaixonada pela forma como contextualizam as questões de gênero, raça e sexualidade no tempo histórico, as atuações e os cenários são ótimos. E os desfechos imperdíveis, além de ser uma série com um humor irônico. Nessa mesma linha, também amo a série “Only Murders in the Building”. Além de ter protagonistas mais velhos, acho atual por tratar da loucura por podcasts criminais de uma forma divertida, que prende.

O que ouvir? 

Não Inviabilize, um podcast que conta histórias reais enviadas pelas pessoas. Maratonei tudo em um mês, é viciante e a voz da Déia Freitas e seus conselhos são imperdíveis.

O que seguir?

O Instituto Pólis, para quem possui interesse em debates sociais no campo da Arquitetura e Urbanismo, é uma indicação. E para quem, como eu, que também gosta de ver coisas leves e se divertir com memórias, têm o @sabeaquelacena. Nesta página há fotos de cenas de filmes, séries, videoclipes contextualizadas nos locais que foram gravadas pela cidade. O meu preferido é o vídeo que fala sobre o Castelo Rá-Tim-Bum. Eu amava esse programa e ele foi um dos motivos de me interessar pela arquitetura.