Quatro séries criadas por mulheres na Netflix

por Fabiane Secches

Entre tantos lançamentos, é natural que a gente deixe alguns passarem batido. Confira quatro séries ou minisséries que merecem um destaque na plataforma e um lugar garantido na sua maratona.

Call my agent (Dix pour cent, 2015-2010), série criada por Fanny Herrero, França.

Uma série ambientada numa pequena e tradicional agência de celebridades localizada em Paris em que, a cada episódio, temos a participação especial de um dos grandes nomes do cinema europeu, principalmente francês — só por isso, já merece o seu tempo: Monica Bellucci, Isabelle Huppert, Juliette Binoche, Isabelle Adjani, Jean Reno, Audrey Fleurot, Joey Starr, Ramzy Bedia, Cécile de France, Jean Dujardin, Charlotte Gainsbourg, Virginie Efira, Tony Parker e um episódio com Sigourney Weaver, entre outras estrelas que interpretam versões engraçadíssimas de si mesmas. Isso além do elenco fixo, os agentes e funcionários da agência em questão, todos extraordinários (destaque especial para a versão canina de Jean Gabin).

São quatro temporadas de uma série que quase sempre consegue manter a qualidade e o senso de humor, enquanto também faz uma crítica apurada e divertida ao modo de vida contemporâneo. Depois de ver os 24 episódios, recomendo a leitura desse texto sobre a série do crítico Inácio Araújo para a Folha de S. Paulo.

Amor e Anarquia (Love & Anarchy, 2020-), série criada por Lisa Langseth, Suécia

Se você gostou de Call my agent, pode ser que goste também de Amor e Anarquia: entre uma agência de celebridades na França e uma pequena editora em crise na Suécia poderíamos estabelecer alguns paralelos, especialmente porque as duas são muito espirituosas. Mas há também especificidades que as distinguem, cada uma tem o seu próprio caminho e temas transversais ao mercado de trabalho. 

Escrevi um texto recentemente sobre essa série sueca que está na segunda temporada e me surpreendeu positivamente. Vou deixar um trecho aqui: “À primeira vista, pode parecer só mais uma produção de entretenimento, uma comédia romântica como muitas outras, o que, em certo sentido, é verdade. Mas não demoramos para perceber que há um senso de humor peculiar, um estranhamento que vai se intensificando e tornando o desenrolar do enredo cada vez mais e mais interessante.”

Algumas pessoas não gostaram tanto dos novos episódios, mas, a meu ver, Amor e Anarquia ganhou complexidade e ficou ainda mais encantadora. Vou deixar aqui o link para quem quiser ler o texto completo que escrevi para a revista Cult.

Inacreditável (Unbelievable, 2019), minissérie criada por Susannah Grant, Estados Unidos

A minissérie, inspirada por uma matéria vencedora do Prêmio Pulitzer publicada em 2015, conta a história de uma série de estupros cometidos contra mulheres de diferentes cidades, faixas etárias e características físicas, que eram investigados como casos à parte até que duas detetives policiais se unem com um objetivo em comum. É uma série forte, mas que respeita seus espectadores e o tema delicado que aborda. Além de recontar a história à sua maneira, com interpretações brilhantes (destaque para Toni Collette e Merritt Wever), a minissérie discute a cultura do estupro e a necessidade de um sistema mais acolhedor e efetivo. Para saber mais sobre a adaptação, leia essa matéria do Hollywood Reporter.

Inventando Anna (Inventing Anna, 2022), minissérie criada por Shonda Rhimes, Estados Unidos

Outra minissérie inspirada em uma história real, contada pela primeira vez numa matéria de Jessica Pressler, Inventando Anna é uma ótima sessão de entretenimento em 9 episódios, enquanto também faz uma crítica ao deslumbramento das pessoas endinheiradas de Nova York que, em busca de mais dinheiro e de mais status, caíram no golpe de Anna Delvey (ou Anna Sorokin), uma falsa herdeira alemã em mais uma ótima interpretação de Julia Garner. A minissérie também acerta em focar na história de jornalismo investigativo conduzida por Vivian Kent, personagem inspirada em Pressler, com uma atuação cativante de Anna Chlumsky. Leia a matéria original que inspirou a adaptação da Netflix.

Créditos das fotos: divulgação.