Qual a boa? Com Paula Gicovate

por Larissa Saram

Quem acredita que estão esgotadas as definições sobre o amor, provavelmente não conhece as obras de Paula Gicovate.
Para a escritora e roteirista fluminense, essa experiência singular de afetos é matéria-prima bruta que ela vai lapidando com palavras até descobrir facetas que catapultam o leitor para longe de qualquer lugar-comum. “Escrevo sobre o amor como uma forma de entendê-lo, de desvendar um pouco a barbárie que é amar. E são muitos recortes, relações. Sempre existe uma história a ser contada, aprendida, em cada uma delas“, disse Paula durante um papo que tivemos sobre seu trabalho, incluindo o “Notas sobre a impermanência” (Faria e Silva Editora, R$ 49,90), livro mais recente publicado pela autora, anunciado como semifinalista do Oceanos 2022, um do mais importantes prêmios de literatura em língua portuguesa.

O romance traz a história de Lia, jovem tradutora carioca envolvida com um homem casado. “Tinha vontade de escrever sobre essa mulher que se via como a terceira ponta de uma relação, o ponto de vista da amante ou de alguém que sente um amor profundo, mas que existe dentro de um contexto específico“, contou Paula.

Além de detalhar um pouco mais seu processo de criação, a escritora compartilhou uma listinha de indicações do que ler, assistir, ouvir e seguir. Vem ver!

Como nasceu a história de “Notas sobre a Impermanência”?

Em Barcelona, numa viagem que fiz para participar de uma residência criativa. Mas fui contar uma história, e voltei com outra. Tentava sentar e escrever todos os dias como faziam os outros artistas da casa, mas isso me causava uma ansiedade absurda e me bloqueava. Foi só quando finalmente decidi sair e viver a cidade que entendi que a história que queria contar estava ali. No vizinho da frente, nos pubs de rock, nos estrangeiros que iam até Barcelona procurando algo de novo e mágico. Desisti do livro que tinha ido escrever e comecei a pensar em Lia, uma estrangeira como eu, que tinha feito essa viagem para romper e conhecer tantas coisas. Comecei pelas cartas que ela mandava para Otto, e a partir daí, construí o Notas.

O livro fala sobre estar no meio. O “entreato” pode ser um bom lugar para se estar? 

Acho que o entreato se encontra muito com o platônico, tema que sou fascinada. O que não se concretiza, não acaba. Para viver uma relação é preciso coragem, porque tudo que existe é passível de acabar, então nesse entreato o amor fica em suspensão. Essa é uma forma de trapacear o fim, talvez, mas também de perder todas as coisas maravilhosas que a ação, o viver, proporcionam.

Quais foram os desafios de escrever um romance a partir da perspectiva de uma mulher que é a amante, aquela que a sociedade gosta de culpar e tratar da pior maneira possível?

Sempre falo que a Lia ser amante é um detalhe dessa história. O livro é sobre Lia, sobre desejo, sobre a paixão ser essa batida de carro, um raio que cai, e a decisão do que se toma quando isso acontece. Queria que a Lia tivesse camadas, que vivesse essa relação de forma racional, sabendo o que desejava, mas o que poderia ter. Lia muda de ideia, tem contradições, paixões, e quem se identifica com ela se identifica com liberdade, coragem, paixão, contradição e força para mudar o rumo.

O que é o amor contemporâneo pra você?

Acho que é um amor com várias possibilidades, encarando outros formatos, entendendo que pode ser da forma que a gente quiser, monogâmico, romântico, múltiplo. O que importa é sentir amor e saber que existem várias maneiras de vivê-lo.

O que ler?

Tenho lido mulheres contemporâneas. Tem uma literatura fortíssima, linda sendo feita agora. Recomendo demais Giovanna Madalosso, Rita de Podestá, Marcela Dantés, Luiza Mussnich, Ana Martins Marques, Juliana Leite, Eliana Alves Cruz.

O que assistir?

Tô apaixonada por The Bear, série sobre um chef de cozinha que herda o restaurante do irmão. Sou apaixonada pelo universo, e os episódios acontecem em tempo real de uma cozinha mostrando todo caos e paixão da gastronomia.

O que ouvir?

Meu radinho segue tendo um coração indie, então sigo escutando as mesmas coisas dos 20 anos como Dinosaur Jr., Pavement, Wilco. E aqui do Brasil sigo apaixonada por Paralamas do Sucesso, Letrux, Caetano Veloso, e adorando Gilsons.

O que seguir? Durante a pandemia a confeitaria virou uma válvula de escape e paixão. Me inspiro demais no trabalho da @feitocom.amor e da @ajoycegalvao, e nas redes da minha amiga @abocanervosa, que sempre divide suas receitas de família. Também tenho lido e amado as newsletters da @luandavieira, da @gaiapassareli e da @alicecoy. As inspirações da @izadezon, os posts hilários da @verenafigueiredo, os conteúdos poéticos da @luizamussnich e a miscelânea maravilhosa da @influencerentediada.