Fe Moreira conversa com Inaê

por Fernanda Moreira

Inaê Moreira, baiana nascida no Engenho Velho da Federação, bairro periférico de Salvador, descobriu a relação com um corpo dançante ainda menina, aos 10 anos, quando entrou para o Curso Preparatório da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia, a Funceb.

O caminho pelo movimento, diga-se, antecedeu até mesmo a sua compreensão pela vida e foi a partir da possibilidade de expandir seu fazer, o dançar, que ela criou a “Dança Intuitiva”, projeto autoral de oficinas e pesquisa.

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“A dança intuitiva tem muito a ver com as memórias da infância e do lugar onde nasci. Para o povo preto é algo que não está separado da cultura, assim como a música, as estórias, e eu queria criar um projeto onde isso fosse um alicerce. A dança como ponte para um reencontro com nossos corpos, culturas e memórias. Eu e minhas duas irmãs crescemos muito próximas dos terreiros de candomblé, comendo caruru, bebendo dessa cultura primorosa que nossos ancestrais nos deixaram como legado. A dança dos Orixás sempre me fascinou desde muito pequena”.

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Essas memórias, que espelham a travessia que Inaê percorre na estética, nos cantos e nas percepções de mundo africanas e de terreiro, foram suas escolas e evidenciam a conexão do feminino com a natureza. No projeto “Dança Intuitiva”, ela une dois pontos fundamentais para entender o princípio cíclico da vida: as fases lunares e a energia das Iabás, as orixás femininas. Elas abarcam todos os elementos (água, terra, fogo, ar) e são as mães de tudo que é vivo.

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A dança é uma expressão do corpo. É movimento, ritmo e comunicação. É devoção à própria natureza. Inaê nos conta que seus ancestrais africanos sempre estabeleceram uma relação de equilíbrio e respeito com o planeta terra, e que quase todas as culturas de matrizes africanas acolhem o princípio de que somos parte do todo.

Nesse aspecto, a espiritualidade tem um papel fundamental: “Eu acredito nos orixás, nas plantas medicinais, nas águas, na lua, e por isso busco a cada dia estar mais próxima desse Bem Viver. Hoje vivo na floresta, dançar aqui é estar afirmando sempre essa conexão sagrada de interdependência e de amor com tudo que me cerca”.

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Conexão Terra, a nova coleção do Cantão, é também uma vontade de afirmação desses saberes, de reivindicar olharmos para as mínimas – e tão absolutas – importâncias. E a dança pode ser um desses caminhos. As oficinas da Inaê são abertas para todo mundo que anseia se reencontrar com a sensibilidade “através das memórias pessoais e ancestralidades negras”.

Se você nunca dançou, mas ficou curiosa para experimentar, esse espaço também é seu. Se interessou? É só clicar aqui para saber mais. Assim, te convido a experimentar novos movimentos para si mesma. Pelas palavras da Inaê, “um corpo que dança é tudo que está vivo e se move com consciência”. Reforçamos o coro. Que assim seja. 😉