Camélia: um resgate do sentir pelas palavras e arte

por Cantão

O sentir que permeia as palavras, a arte e tem como resultado um trabalho único e cheio de afeto. Assim podemos definir a Camélia, o projeto da Artesã Camila Nogueira, que encontrou nas palavras, bordados e materiais orgânicos o resgate com o seu lado mais lúdico e sensível. Foi com o seu “divórcio” com a publicidade que ela iniciou os estudos de cerâmica, desenho, caligrafia, tecelagem, costura e estamparia manual, mas foi o bordados livre que falou mais alto ao seu coração.

Entre os materiais orgânicos que utiliza, estão as folhas secas. Sim, aquelas que a natureza nos dá. E, para Camila, o seu trabalho é uma ponte entre a nossa natureza de dentro (ciclos, sentimentos) e a natureza de fora (ciclos, passagem do tempo). “É uma tentativa de trazer o olhar do outro para nossas singelezas, nossas humanidades. Uma forma de olharmos com olhar gentil para nossa história e para as pessoas ao redor.”

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Nas folhas, a artesã exprime de forma sensível mensagens que deixam o nosso coração quentinho.

Feito de maneira totalmente manual, desde a busca pela matéria-prima à entrega, os produtos da Camélia recebem o selo do Review Slow Living–  empresa de comunicação e inovação que incentiva transformações pessoais e profissionais através das inspirações do slow living e do empreendedorismo.  Para receber o selo, os produtos precisam ser: feitos no Brasil e à mão, atemporais, feitos a partir do upcycling, localmente, sem crueldade animal e com um comércio justo.

Nesses três anos de vida, a Camélia coleciona histórias de encontros, pessoas queridas, potência feminina e muita poesia. Hoje a Camila vem dividir isso com a gente:

“Posso dizer que a alegria do empreendedorismo feminino é presenciar e sentir quão potente é estar cercada de mulheres. O apoio, o acolhimento, o incentivo. As relações que se travam entre mulheres são fortes, sensíveis, acolhedoras. O futuro realmente é feminino!”

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Quando a Camélia nasceu e por que ela foi batizada com esse nome?

Camélia nasceu em maio de 2017. A escolha de um nome foi difícil demais! Queria algo que falasse de mim, do meu fazer, mas que não “prendesse” a marca a uma coisa só. Considerei várias ideias mas, no fim, Camélia veio de um exercício, um jogo de palavras…um brainstorm comigo mesma. Camélia foi batizada a partir de um trocadilho com o meu nome (Camila). Sempre fui muito ligada à natureza, interessada pelo nome das flores, das plantas. Camélia faz uma alusão a isso, a mim mesma e ao meu universo. É como um alter-ego meu.

 Nessa trajetória de empreendedorismo feminino, quais foram as maiores dificuldades que você teve? E alegrias?

Eu acho que nós, mulheres, somos ensinadas desde cedo que valemos menos, que temos que batalhar muito mais, que nosso lugar não é no holofote. Para sermos levadas a sério, a sensação é a de que temos que lutar muito mais. Esperam que sejamos mais compreensivas, mais doces, mais prestativas. Consideram nossa produção artística menos valorosa; a exposição de um artista homem ganha sempre mais credibilidade.

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Não me recordo de nenhuma situação específica de dificuldade enquanto mulher empreendedora, mas percebo esses fatores tendo influência, de forma sutil, no meu dia-a-dia e nas minhas relações enquanto artista. Aliás, é uma cobrança introjetada: a “síndrome do impostor” ganha mais força quando se é mulher. Percebo que as dúvidas e incertezas que tenho quanto ao valor do meu trabalho são maiores e mais frequentes do que aquelas vividas por colegas artistas do sexo masculino.

Em contrapartida, é um universo também muito lindo o que tenho descoberto. O número de mulheres empreendedoras parece ser muito maior que o de homens: percebo isso nas lojas onde vendo meus produtos, nas páginas que sigo nas redes, nas feiras onde participo. Posso dizer que a alegria do empreendedorismo feminino é presenciar e sentir quão potente é estar cercada de mulheres. O apoio, o acolhimento, o incentivo. As relações que se travam entre mulheres são fortes, sensíveis, acolhedoras. O futuro realmente é feminino!

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Quando você fala nessa ponte entre a  natureza de dentro e de fora e todo o olhar afetivo que traz consigo, como você se enxerga depois desse processo de renascimento? 

Eu sinto que posso ser mais honesta comigo mesma. Mais transparente.
A mudança de uma profissão “impessoal” para um assim tão pessoal implica em olhar para partes de si. Quando a gente faz arte, uma parte íntima nossa fica impregnada no objeto artístico, e é exposta ao público. Então é como abrir a desconhecidos um quinhão bem escondido seu.
Esse “renascimento” me trouxe para perto de minha sensibilidade.

Se, por um lado, isso me põe mais constantemente à flor da pele, por outro, me coloca também mais em paz com meus valores, minhas crenças, e mais próxima das pessoas, sentimentos e lugares que me trazem paz. Dizem que se conhecer pode ser um processo doloroso, mas ele também traz muita luz.

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A gente sabe que, pra você, a reconexão com a criatividade têm relação com o lado mais lúdico que vem da infância. Como essa necessidade surgiu?

Engraçado…acho que essa necessidade sempre esteve aqui, latente. Mas talvez eu pouco tenha dado crédito, voz ou valor ao longo dos anos. A gente é ensinado que ser “infantil” é algo ruim, menos importante, indesejável. Mas é na infância que nosso olhar é mais atento, curioso, cheio de brilho. Exploramos, reparamos nos detalhes, descobrimos o mundo. A criatividade impera na infância. Testamos, erramos, materializamos um mundo imaginário. Tudo isso sem grandes julgamentos.

Crianças entendem o mundo por metáforas, pela leveza da brincadeira, pelo lúdico. Conseguem resumir, sem esforço, as pessoas em sua essência. Sentem na pele onde o afeto está.

Em mim, guardei esse brilho no olho da curiosidade, a busca pela magia do afeto nas relações. Entender que isso é a minha verdade traz leveza para o meu viver. Sinto-me mais próxima do que me faz sentido.

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O seu trabalho é carregado de afeto e deve despertar vários sentimentos em quem compra. Tem uma história bonita pra dividir?

Gente…graças aos deuses e deusas, eu sou muito abençoada por pessoas queridas no meu caminho. Já foram algumas boas histórias que passaram por mim. Eu já bordei folhas para um buquê de noiva, encomendadas pelas madrinhas, que fizeram essa surpresa. Já bordei uma folha dada de presente como bodas de outro

 

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Mas nunca vou esquecer da primeira história marcante que vivi com Camélia: em uma das primeiras feiras que participei – a primeira expondo folhas bordadas – um senhor parou em minha mesa e fitou um quadro por minutos. Adelson me disse que fez questão de parar lá, e de me contar essa história. Ele disse que, há alguns anos, em seu caminho para o trabalho, passava sempre pela mesma rua, onde via uma arte colada na parede. Essa arte era um “lambe-lambe” com a foto dos pés de uma senhora caminhando para longe com sua bengala, e a frase “o tempo obriga a deixar ir”. Adelson se sentiu tocado por essa mensagem, então passou a reparar sempre na tal arte durante seu caminho ao trabalho. E ele percebeu que, com o passar do tempo, essa arte foi se desfazendo.

 

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E ele escreveu um lindo texto aos amigos, trazendo as imagens do mural e uma reflexão sobre o impacto que a mensagem da arte teve nele. Adelson me contou tudo isso na feira, e me encaminhou esse e-mail que havia enviado aos amigos. Ele me contou tudo isso, e se abriu dessa forma, porque viu uma arte minha na mesa exposta, e se emocionou. Era uma folha seca; nela bordei “deixar ir”.

E aí, também ficou encantada com tanta poesia e sensibilidade? Segue a @_acamelia_ no Instagram e fiquei por dentro de todas as novidades dessa marca do coração <3