O que preenche a alma de um lugar é o modo como as pessoas interagem com ele e, quando presenciamos algum tipo de manifestação artística, o mundo ganha mais personalidade e se enche de vida. O faz de conta muitas vezes conta muito mais de um povo do que a sua própria história real. A realidade nem sempre é tão sincera, mas a arte, não tenha dúvida, essa não mente. Ela é transparente, nua e crua. É sentimento, é a expressão do que há de mais profundo no ser humano, é a face mais verdadeira de uma cultura que podemos encontrar onde quer que estejamos.
Quando dois artistas dançam tango nas ruas de Buenos Aires eles dão lugar a um personagem, transformam calçadas em palcos, sol em holofote e até os despretensiosos transeuntes se descobrem plateia.
Os aplausos do grande público são a consagração de um artista, mas nem sempre eles vêm do encontro das palmas das mãos. Eles podem vir de gargalhadas e até da sutileza de uma lágrima ou de um arrepio. Uma roda de música e contação de histórias em Marrakech, mesmo que você não entenda o idioma, pode ser extremamente encantadora.
A arte muitas vezes nos paralisa por fora, mas provoca um turbilhão por dentro. Quem vê essas mulheres às margens tranquilas de um canal de Veneza não pode imaginar o que há dentro delas enquanto pintam uma tela. E quem verá a pintura? O que vai sentir?
O artista pode ser um músico, um ator, um mágico, um fotógrafo, um pintor ou até um pescador. Em Myanmar, a pesca é quase um balé. Com um pé na pontinha da canoa, outro apoiando o remo e uma rede em forma de cone na mão, eles parecem, além de dançarinos, malabaristas. A tradição milenar emociona pela beleza e simplicidade dos movimentos. Sem contar a interação do artista com a natureza, que sequer precisa de coreógrafo para encontrar a sincronia perfeita.
Quem foi que disse que obra de arte é só o que vemos nas paredes dos museus? Olha ela aí, estampada nos muros das cidades, transformando as ruas marginalizadas do centro de Bogotá ou de Bushwick, em Nova York, em grandes galerias a céu aberto. É a expressão que vem das ruas, outra linguagem, mas com a mesma missão: inspirar, instigar, provocar.
Um graninha não cai mal, afinal, artista não vive de brisa. Os caras trabalham, trabalham duro. Colocam corpo, alma e coração no que fazem. A arte não é só glamour, não é um mundo distante, limitada às telas dos cinemas. Se a gente joga uma moeda na Fontana di Trevi, por que não colaborar com um sanfoneiro que toca em uma ponte sobre o Rio Tibre?
O modo como um local interage com o lugar onde vive pode dizer muito mais sobre a cultura de um país do que seus próprios pontos turísticos. Observar pessoas e expressões é umas das formas mais enriquecedoras de colecionar experiências e aprender sobre o mundo, o maior palco da vida real que você irá conhecer.
O palco de um artista pode ser uma esquina qualquer. Se tem espaço para a saia rodada da cubana girar, ela não vai deixar de brilhar. E é na cor do seu balanço colorido que o público em Havana fica tonto de admiração.
Arte também é expressão popular, é a chance de transformar onde vivemos em um lugar melhor. É entender que tudo na vida é equilíbrio e que até em uma grande festa da carne é possível ver o desejo da alma de um povo que, com sua fantasia, insiste em brilhar e ser feliz.