A arte de cozinhar não é para aqueles que não arriscam. É preciso ter imaginação. E coragem de experimentar o que pode não dar certo. É assim a história de Mari Puttini, que trabalhava com Moda no Rio de Janeiro antes de se dedicar totalmente às panelas. Quando ainda trabalhava como estilista, se juntou à amiga Débora para colocar a mão na massa com a Veg & Tal, sua primeira empreitada gastronômica dedicada à criação de hambúrgueres vegetarianos.
A parceria deu muito certo, mas Mari ainda não tinha se encontrado. Resolveu largar tudo e ir para um ashram, um retiro de yoga em Teresópolis. Foi estudar mais sobre a prática, meditar e buscar sua verdadeira essência. Seis meses depois, retornou à Lorena, sua cidade-natal, sem muitas perspectivas. Foi quando a amiga Olivia a convidou para morar novamente no Rio.
Entre tantas idas e vindas, voltou às terras cariocas e começou a olhar para dentro, pensando em como voltaria a cozinhar, mas com propósito! Foi assim que nasceu o Mesa Em Mesa, uma rede de culinária afetiva.
A iniciativa, sempre liderada pela chef, funciona assim: apenas três pessoas podem convidar para o jantar especial. Uma delas é o anfitrião, o dono da casa, que pode convidar mais três pessoas. Os outros dois convidados são pessoas que foram sorteadas em jantares anteriores, que podem convidar mais três pessoas cada um. Assim, a cada jantar, novas pessoas podem participar e criar novas conexões.
Neste encontro especial para o Cantão, ela preparou um verdadeiro espetáculo em 3 atos: entrada, prato principal e sobremesa, com aromas e sabores inesquecíveis. Aqui ela compartilha mais sobre o projeto e conta como foi criar um menu especial inspirado na nova coleção do Cantão:
Como é o processo criativo de cada jantar?
Todo encontro sempre tem um tema. A partir desse eu crio os próximos. O primeiro jantar foi inspirado em Especiarias, por exemplo. Às vezes eu levo o tema pronto, às vezes o anfitrião gosta de contribuir… Eu converso muito com quem empresta a casa. Pergunto o que essa pessoa gosta de comer, o que ela gosta de fazer, pra me dar ideias que tenham a ver com ela e com a casa também.
Você é uma food stylist: não pensa apenas no paladar do menu, mas também no visual. Para você, o prato também é um palco?
Sim! O que eu mais gosto é ter que pensar em traduzir um conceito para o prato. Isso te chama para estudar, sabe? Eu sempre brinco que faço comida como faço roupa. Gosto muito de combinar, pensar na estética!
Como foi criar os pratos do menu especial do Cantão?
Fazer esse menu foi como pensar em criar uma coleção de moda, mas transformando a cartela de cores em ingredientes. O que me ajudou muito foi ler o release da coleção, pensar mais em todas essas inspirações e como eu faria um prato com esse conceito. Pesquisei e elaborei muito! Pensei em brincar com a arte e a dualidade do teatro. Por isso, tem o jogo do doce e o salgado, o macio e o crocante, o refrescante e o picante, o frio e o quente. Adoro harmonizar sabores! Pra mim, isso é arte.
Pra gente, o fazer à mão vem do coração, de dentro. Fale um pouco sobre a importância que você dá para a culinária artesanal.
Sou à favor do feito à mão! Não podemos simplesmente abrir uma latinha e servir. A terra está dando o tomate pra gente fazer o molho, sabe? É claro que nem sempre temos tempo para fazer tudo manualmente, mas numa proposta de conectar pessoas para comer bem, tudo tem que ser bem feito. Com mais amor e dedicação!
Para você cozinhar é como meditar?
Eu nem escuto música quando estou cozinhando porque eu me concentro muito. Também não converso muito quando estou preparando a comida, pra não perder o foco. Preciso sentir 100% o que estou fazendo. Preciso sentir o cheiro, a textura do que estou preparando. E também o que a casa está me trazendo. Já aconteceu de eu chegar na casa do anfitrião e mudar o cardápio porque senti que aquele prato não se encaixava. É bem desafiador, mas eu adoro. Às vezes, eu penso que o prato vai sair de um jeito e ele acaba saindo de outro. Tudo acaba sendo bem intuitivo.
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Cada encontro é sempre acompanhado por uma receita capaz de evocar lembranças da infância, nos acalentar depois de um dia difícil, e de trazer à tona sorrisos, conversas e interações enriquecedoras. Aceite o convite. Convide um amigo. E outro. Sirva-se à vontade, tem sempre mais uma travessa no forno! Quem sabe a próxima mesa pode ser a sua?