Morro de São Paulo: vida mansa e agito

por Cantão

A tão badalada Morro de São Paulo de hoje nasceu há centenas de anos, quase ao mesmo tempo que o descobrimento do Brasil, em 1535. A antiga e paradisíaca vila de pescadores fica no município de Tinharé, a poucas horas de Salvador, na região muito conhecida como Costa do Dendê.

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Se a calmaria deixou de ser uma particularidade de Morro de São Paulo ao longo dos anos, por outro lado a beleza não abandonou a ilha, que continua sendo um dos lugares mais bonitos que já conheci na vida. Por todos os lados que olhamos vemos cenários espetaculares, repletos de águas calmas e transparentes, muito verde e belíssimas piscinas naturais enfeitando a paisagem.

A orla é, sem dúvida, a grande protagonista de Morro. Não se deixe enganar pelos nomes pouco criativos das praias: Primeira Praia, Segunda Praia, Terceira Praia, Quarta Praia e Quinta Praia (ou Praia do Encanto). A natureza não economizou na exuberância ao desenhar a beira-mar da ilha.

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A Primeira Praia, onde termina a famosa tirolesa – a maior dentro d’água do Brasil, é pequena e pouco frequentada pelos turistas, mas tem uma beleza inegável e forma belas piscinas naturais no início da manhã e no fim de tarde.

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A Segunda Praia é a mais badalada, rodeada por pousadas, bares e restaurantes, que ocupam boa parte da faixa de areia com mesas e cadeiras. Para quem procura um agito, essa parte é perfeita, mas para quem busca tranquilidade, é melhor seguir em frente.

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A partir da Terceira Praia a definição de “paraíso” dada por muitos a Morro de São Paulo começa a fazer sentido. Por ali as coisas vão ficando mais calmas, mas esse não é o melhor ponto para banho, já que durante boa parte do dia suas areias ficam cobertas pelo mar com a subida da maré.

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A Quarta Praia, a maior da região, fica a menos de 10 minutos de caminhada da Segunda Praia, mas tem um clima completamente diferente da vizinha. Apesar de ter menos opções de bares, restaurantes e pousadas, o pouco que vi por lá me conquistou. Como ainda é pouco explorada, a paisagem é muito mais bonita e selvagem, cheia de coqueirais, sombras naturais de árvores e pouquíssimas pessoas para dividir espaço.

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Bem mais isolada, em uma área onde só há grandes hotéis e resorts, está a Quinta Praia. Para o deslocamento, é preciso contar com fretes particulares ou com transportes que as próprias hospedagens oferecem aos hóspedes. Para quem quer ficar longe de tudo, em contato total com a natureza, essa é uma ótima opção para se buscar hospedagem.

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Fiquei hospedada na Primeira Praia, na Pousada do Farol, o que foi ótimo no sentido prático. Estava pertinho do porto e próxima à Vila e à Segunda Praia, onde há maior concentração de lojinhas, bares, restaurantes etc. Mas confesso que não seria nada mau ter ficado hospedada em um lugar mais tranquilo, para fazer um detox.

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Para ir além das indefectíveis praias de Morro de São Paulo, é possível fazer um passeio delicioso à Ilha de Boipeba. Os primeiros pontos de parada do passeio são as piscinas naturais de Guarapuá e Moreré. As duas são lindas, mas a segunda fez o meu coração bater mais forte.

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Entre um mergulho e outro, descobrindo barreiras de corais e observando peixinhos coloridos, ainda pude tomar uma cervejinha nos bares flutuantes da piscina natural.

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Após essas duas paradas de encher os olhos e a alma, era hora de aportar na Boca da Barra, em Boipeba, onde o rio se encontra com o mar.  Rodeada por muito verde, vastos coqueirais, areias branquinhas e, claro, muita tranquilidade, o lugar conta com restaurantes simples à beira-mar que oferecem pratos típicos deliciosos por preços muito justos.

É sempre bom fugir dos restaurantes indicados pelos guias para pagar menos. Foi o que fizemos e almoçamos um maravilhoso prato de camarão empanado para dois por 60 reais, praticamente a metade do que os quiosques maiores na área da chegada dos barcos costumam cobrar.

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Na volta do passeio, seguimos pelo Rio do Inferno, que apesar do nome nos proporcionou uma volta bem mais tranquila do que a ida, que se dá por mar aberto e por isso balança um pouco. Paramos rapidamente em Cairu, um povoado cheio de casarios antigos e igrejinhas, sede administrativa do arquipélago fundada em 1501, e seguimos para Canavieira, onde paramos em um restaurante flutuante que serve caranguejos e ostras gratinadas.

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De volta a Morro de São Paulo, era hora de tomar um banho, descansar um pouco e se preparar para a agitada noite da ilha. De segunda a segunda tem alguma coisa acontecendo por lá. Além dos bares e restaurantes, há quatro casas noturnas na região: Pulsar, Toca do Morcego, Six Club e Funny. E segundas e quinta-feiras são dias de luau na Segunda Praia. Haja fôlego!
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Como chegar:

Há várias formas de chegar a Morro de São Paulo, por aéreo, marítimo e semiterrestre. Eu já fiz os três porque fui à ilha duas vezes.

– Aéreo: O aéreo é feito em aviões bimotor ou helicóptero e custa em média R$ 450 o trecho. Dura cerca de 20 minutos e as paisagens que se vê do alto são espetaculares.

– Marítimo: Certamente é a pior forma de ir a Morro de São Paulo. A travessia, partindo de Salvador, é via catamarã e, teoricamente, dura 2h30, mas como a condição do mar nunca está muito favorável, a viagem pode durar até desagradáveis 4h de balanços bruscos e extremamente enjoativos. E essa nem é a opção mais barata, custa cerca de R$ 100 o trecho.

– Semiterrestre: Falando de custo x benefício essa é, sem dúvida, a melhor opção. Apesar das baldeações, a viagem, que pode ser organizada junto a uma empresa, dura cerca de 3h e custa entre R$ 85 e R$ 100 reais o trecho, para saídas e chegadas no Porto de Salvador.

“Morro de Saudade” é a frase que estampa nomes de lojas, camisetas e lembranças de Morro de São Paulo. E foi exatamente a saudade que me moveu a voltar após 8 anos ao balneário baiano. Ao sair de lá percebi que saudade não é feita para se matar. Saudade é sentimento que se cultiva e não deixa o amor morrer jamais.  Até a próxima, Morro! 🙂