Na cozinha com Bela Gil

por Cantão

Ela pode até substituir alguns ingredientes à mesa, menos sua simpatia e talento.
A chef e nutricionista Bela Gil tem um tempero arretado. Sempre desfilando um sorriso de orelha a orelha, a filha de Gilberto e Flora Gil, é um fenômeno na TV e na web.

Apesar de não ter optado por seguir a carreira musical que corre na veia da família, ela faz barulho com receitas nada convencionais, contrariando o mito de que comida saudável é sem graça. Ainda adolescente, descobriu a prática de yoga e com ela começou a se interessar pelos benefícios da culinária natural. Aos 18 anos se mudou para Nova York, onde morou por oito anos. Tendo que cozinhar sua própria comida, Bela se aprofundou no mundo da culinária e nutrição.

Considerada uma verdadeira guru da alimentação ultra saudável e defensora do meio ambiente, Bela surpreende por sua influência e pela discussão que consegue gerar. Com seu séquito, já conseguiu até reverter um debate sobre agrotóxicos com apenas um post.

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No ar com a sexta temporada do programa Bela Cozinha no GNT, ela se desdobra tocando uma longa lista de projetos admiráveis. A baiana já tem em sua estante dois premiadíssimos livros de receitas saudáveis, e um terceiro, lançado no último ano; tem diversas linhas de produtos orgânicos e naturais; é conselheira da ONG Gastromotiva; dá palestras sobre alimentação ao redor do país; comanda o Canal da Bela no YouTube, e ainda assina o cardápio dos restaurantes ‘Da Bela’, em Ipanema e na Barra da Tijuca, no Rio.

Bela também é ativista e seu papel é fundamental na disseminação da educação alimentar em diversas frentes política, socioeconômica e cultural. De grão em grão, ela quebra paradigmas e mostra que a sua luta por uma alimentação mais saudável e justa pode ajudar a mudar a forma que o brasileiro consome. Dúvidas de que ela já está conseguindo?

Você passou um tempão estudando nutrição e culinária saudável em Nova York.
Como foi voltar ao Brasil e ir parar na TV?

Eu estava fazendo mestrado em NY, e uma amiga começou a filmar umas aulas de culinária que eu dava em casa.
A gente apresentou para o GNT e calhou deles estarem procurando um programa sobre saúde e bem-estar para encaixar na grade. Acharam que o programa comigo ia funcionar bem e aí as coisas acabaram fluindo!

Muita gente julga seu estilo de vida – desde a escolha da cúrcuma como pasta de dente ao famoso churrasco de melancia, por exemplo. Os memes te afetam?

Ah, não! Obviamente tem alguns memes negativos, mas a maioria tem um cunho de humor que eu acho super legal e até ajudam a divulgar meu trabalho e o meu objetivo, que é melhorar a alimentação e fazer com que as pessoas conheçam novos alimentos. Tem gente que passou a me conhecer por ouvir sobre a linhaça e o inhame, e nunca tinham ouvido falar sobre esses alimentos! E eu acho isso muito bacana.

Adoro poder discutir sobre um assunto quando o outro tem um conteúdo legal pra ser conversado. Quando o discurso é vazio ou de ódio, entra por um ouvido e sai pelo outro.

A Internet intensifica isso, não é?

Isso faz parte, eu acho. A Internet coloca as pessoas num lugar confortável para poder julgar os outros. Ninguém nunca me parou na rua para dizer que detesta meu trabalho, que eu sou insuportável… obviamente que atrás de uma tela isso fica mais fácil, né? Mas isso realmente é algo que não me prejudica, nem me incomoda.

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Por que você acha que o brasileiro sente tanta resistência em aceitar uma alimentação mais consciente?

Acredito que essa resistência é do ser humano em geral. Temos dificuldade em aceitar mudanças e inserir novos hábitos no dia a dia. Pedir para alguém mudar o seu hábito alimentar é uma das coisas mais difíceis que se tem. Essa resistência vem do medo da mudança, porque é difícil de mudar.

E também acho que isso não é uma particularidade da alimentação. Essa resistência acontece em vários setores. Não é todo mundo que começa a reciclar, sabe? Mas acredito que isso está melhorando. Antigamente, muitas pessoas achavam estranho substituir leite de vaca por leite de amêndoa para fazer um bolo, e hoje fazem e amam, e ainda me agradecem muito porque é uma escolha mais saudável e sustentável. Mas essa mudança é um processo, leva tempo também.

Essa é a primeira linha de roupas e acessórios que você assina.
Como você define o seu estilo de se vestir?

Eu sempre gostei muito de estampas. Meu armário sempre foi muito colorido, florido… eu até tenho uma filha que se chama Flor! (risos)

Para o figurino do programa sempre tive liberdade para ser eu mesma, sem medo. É muito bom realmente poder misturar o que eu quiser, colocar um turbante de uma cor com uma estampa de outra. Quem me ajudou muito a ter esse olhar diferente foi a Su Tonani, minha figurinista. E o mais importante de tudo é que a roupa tem que ter conforto. Pode ser o look mais lindo, mais incrível, mas se eu não estiver confortável, não uso. Não consigo usar salto, prefiro rasteirinha… eu sou do time do conforto!

Qual receita de família desperta a sua memória afetiva?

Ah, o cappelletti da minha vó! É uma receita bem tradicional e ela sempre faz no Natal. A massa costuma ser recheada com carne, carne de porco ou vitela, mas ela faz uma versão de tofu e abóbora pra mim, porque eu reduzi o consumo de carne. Toda vez que leio “cappelletti” num cardápio de algum lugar, penso na minha avó.


Alguma lembrança ou momento especial à mesa?

Os almoços de domingo na casa dos meus pais. Sempre tem um cozido, uma feijoada – sempre com a minha feijoada adaptada (risos). Às vezes alguns amigos bem próximos também vão. Aquele é o ponto de encontro da família, é quando a gente fica mais perto, conversamos… e é uma delícia.

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Falando em filhos, você lançou recentemente a websérie “Bela Maternidade”, que fala sobre a carência ou excesso de informações que as gestantes e mães de primeira viagem recebem. Como tem sido dividir as suas escolhas nesse momento tão importante da vida da mulher?

Acho muito bom, muito importante poder falar de temas como parto humanizado e o poder de escolha da mulher. A receptividade tem sido muito positiva! As pessoas têm muita curiosidade em relação às minhas escolhas pessoais. Em relação à alimentação, escovação dos dentes, a amamentação do Nino. Então tem sido muito interessante.

Quanto mais informação a mulher tiver, melhor para ela decidir qual caminho seguir naquele momento. A gente busca informação sobre tanta coisa! Se até quando queremos comprar um tênis ou uma casa pesquisamos muito, por que não pesquisar sobre o melhor tipo de parto para receber seu filho?

Muitas mulheres simplesmente sentam num consultório médico e aceitam tudo o que o médico fala, sem questionar, sem se informar, sem saber se aquela escolha é a melhor opção. É preciso buscar um médico que tenha afinidade com você.

Eu não estou aqui para convencer ninguém para escolher um tipo específico de parto, mas sim para passar informações suficientes para que as mulheres façam uma escolha mais consciente para a vida delas. E o canal acabou virando um grande espaço de troca, todo mundo passou a compartilhar experiências, perguntar muito. Tem sido maravilhoso!

Como você encara a passagem de tempo?

Eu amo o tempo. Ele é um excelente remédio. E em relação à idade, me sinto muito bem. A cada aniversário que faço, fico super feliz. Acho que a gente deve valorizar muito o presente, valorizar a nossa vida hoje. Por isso eu gosto de comer bem, para viver bem o agora, não necessariamente pra viver 100 anos. O tempo me trouxe muitas coisas boas, né? Trouxe dois filhos incríveis, muitas alegrias, muitas experiências. Que venha o tempo!

Qual seria a sua receita para a longevidade?

É ter paz interior. Assim você consegue se blindar de coisas muito negativas, que não fazem bem e não fazem diferença na sua vida. A gente não pode se deixar afetar por besteira. Se você tem paz interior, consegue isso. Aí você fica linda e de bem com a vida para sempre! (risos)

Para finalizar: o que é Viver Bem pra você?

Viver Bem pra mim significa poder fazer escolhas que alimentam nosso corpo e nossa alma, pra gente conseguir viver de uma maneira muito mais feliz e agradável. Assim ficamos mais em harmonia com as pessoas à nossa volta, com o ambiente onde a gente vive.  

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