Conheci a cantora paraense Aíla entrevistando-a pro programa Faro MPB, da MPB FM, há uns dois ou três anos. Seu primeiro disco, “Trelelê” (2012), já tinha chamado minha atenção com aquela fuleragem luxuosa que só paraense sabe fazer mas o segundo, recém-lançado com o apoio do edital Natura Musical, me arrebatou. A começar pelo título: “Em Cada Verso um Contra-Ataque”.
Nascida e criada na periferia de Belém, Aíla chama atenção pelo vozeirão mas em seu novo trabalho, com repertório politizado da primeira à última faixa, percebe-se que o vozeirão aponta mesmo pros seus versos sempre certeiros e engajados. Aíla não foge à luta (ainda bem!) e mostra todo seu lado militante com canções que exaltam o feminismo, promovem que toda maneira de amor vale à pena e ainda combate o racismo. “Precisava falar do hoje. Existiam coisas que precisavam ser ditas”, afirma uma artista segura de sua arte.
“Arte é revolução. O maior sentido de fazer arte, pra mim, é transformar o agora, é mover, fazer refletir, cutucar, contra-atacar. Artista neutro na política não existe, quando você se cala, você é a favor de que tudo permaneça como está. Somos responsáveis pela construção de espaços de debates, de diálogos. Apesar de vivermos em um mundo controlado pelo medo, pelo capital, pela repressão, nossa arte precisa ser um sopro de resistência e liberdade”, completa.
Além das canções autorais, composições de nomes contemporâneos como Aíla se destacam: César Lacerda, Siba, Posada, Paulo Monarco e Bruno Batista. Chico César e Dona Onete também dão suas contribuições participando das faixas “Melanina” e “Lesbigay”, respectivamente. Assinando a produção musical, outro artista porreta: Lucas Santtana.
Sabe disco pop, desses que dá vontade de dançar na sala? Então…Na verdade, não é disco. É discão! É atual, preciso, corajoso e necessário numa época em que nós mulheres precisamos sair às ruas para que nenhum direito adquirido seja retirado e para gritar pelo óbvio: chega de machismo. “Eu acredito que o empoderamento feminino é uma luta diária e constante, que deve estar presente no convívio familiar, nas escolas, nas relações sociais. O machismo é uma cultura muito enraizada na nossa sociedade, portanto precisamos estar sempre atentos para não reafirmá-lo. Empoderar as manas a nossa volta é fundamental para toda essa transformação”, explica.
Guarde (bem) este nome e fique de olho nas novidades da artista que promete!