Já falamos por aqui do Amores Anônimos, um projeto fotográfico colaborativo que começou com uma hashtag no Instagram e acaba de se transformar em um bonito livro. A publicação reúne 36 fotografias e mostra diferentes casais.
A jornalista Daniela Arrais, sócia da Contente, empresa que também criou o Instamission, está à frente do projeto. Ao lado da designer Yana Parent, criou a Capote Books e acaba de lançar a publicação de maneira independente.
Conversamos com Daniela sobre fotografia, Instagram e mercado editorial independente.
A fotografia parece ser um interesse antigo para você. Antes de criar o projeto Amores Anônimos, e até mesmo antes de criar o Instamission, o tema já era recorrente em seu blog, o Don’t Touch My Moleskine. Você poderia nos contar um pouco sobre sua relação com a fotografia?
Foi com o Don’t Touch que eu me apaixonei por fotografia. Comecei a fazer o blog em 2007, tinha uma cabeça muito mais voltada pro texto. Mas usava muito a internet, acabava vendo muita coisa diariamente e, em vez de ficar mandando por email para os amigos (e sendo aquela pentelha que enche a caixa de entrada alheia), decidi criar o blog. Chegava do trabalho à noite e começava a navegar naquela internet que parecia até mais ampla que a de hoje, por ser mais dispersa mesmo. Esse hábito foi me fazendo descobrir fotógrafos, tanto clássicos quanto novos, me deixou com aquela vontade de ter uma conta no Ffffound (lembra como era difícil?) e passar muito tempo no Flickr, descobrindo como o dia a dia pode ser poético, dependendo de quem o fotografa.
Em 2011, criamos o Instamission, projeto de missões fotográficas semanais que acontece no Instagram. A fotografia, então, ganhou o papel de protagonista na minha vida, agora também com o viés de trabalho. Ao longo desses mais de cinco anos, a gente já recebeu mais de 750.000 fotos nas hashtags do projeto. E você imagina que a cada missão patrocinada por uma marca, por exemplo, a gente olha todas as imagens para fazer uma seleção das melhores. Ver foto é trabalho, é prazer, é uma ampliação enorme do meu HD mental. Vejo centenas de imagens por dia e nunca canso, é bom.
Você acha que o Instagram modificou a maneira como nos relacionamos com a imagem e com o mundo?
Definitivamente o Instagram mudou a maneira como nos relacionamos na internet. Antes a gente só escrevia: no Twitter, no Orkut, no Facebook. Quando o Instagram chegou, mudou tudo. Passamos a nos comunicar por imagens. E se a gente pensar hoje na supremacia da imagem, agora cada vez mais da imagem em movimento, vemos que é uma mudança enorme em tão pouco tempo, né? Me agrada muito a ideia de que a gente ampliou nosso olhar, aprendeu a fazer fotos cada vez melhores. Por outro lado, me desagrada um pouco quando essas fotos são mais apontadas pra nós mesmos, nossas selfies, do que para a rua, para os outros.
E em relação ao Instagram especificamente, tenho a mesma impressão da maioria das pessoas: que essas mudanças na timeline, no algoritmo dão uma travada na nossa experiência de usuário, e isso é chato. Mas ainda assim acho que a gente consegue ir driblando essas imposições e construindo nosso feed de uma maneira que traga bastante informação e inspiração.
Como surgiu a ideia de publicar de maneira independente?
Surgiu do entendimento de que eu precisava aprender a fazer um livro, e esse processo tem um tempo próprio. Até começamos a fazer o livro com uma editora super legal, mas eles tinham uma pressa que não combinava com meu processo. Conversando com Yana Parente, amiga e parceira nessa empreitada, demos vazão a uma vontade antiga de trabalharmos juntas. A gente já morou juntas, ficávamos no sofá até de madrugada conversando como seria incrível fazermos livros. Deu o clique, então, de que esse poderia ser o projeto de estreia (na verdade a gente começou com outro, mas eu travei totalmente na edição).
E o processo foi muito fluido. Ela já tem uma boa experiência com livros, de fotografia inclusive, então faz projetos com uma destreza linda de ser ver. Juntas, fomos entendendo cada etapa do processo. Da concepção à impressão, passando pela distribuição, que é osso. Hoje tô com uma sensação de que, ao resolver fazer o livro de forma independente, a gente acabou adquirindo novas habilidades – e isso é sempre bem forte pra vida, né?
Você faz planos de publicar outros livros pela Capote Books?
Sim! A ideia é fazermos o projeto que ficou travado e, depois, nos deixarmos abertas para toda e qualquer possibilidade que desperte um encantamento, sabe? A gente quer fazer livros que a gente queira ter, dar de presente, espalhar pelo mundo. Não pensamos em um plano de negócios, mas sim em um fluxo que nos deixe contentes.
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Acompanhe o perfil do Amores Anônimos no Instagram @amoresanonimos e saiba mais sobre o livro aqui.
créditos das fotos: @gnunes, @camilacornelsen e @dejumatos.