Construções sustentáveis

por Fabiane Secches

Nos anos 70, os australianos Bill Mollison e David Holmgren criararam o conceito de permacultura, que definiram como “um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis” , que envolve aspectos éticos, socioeconômicos e ambientais. Atualmente, o bioarquiteto Tomaz Lotufo pensa na permacultura como um tripé: uma nova ótica, uma nova ética, uma nova estética.

Convidamos a escritora, ativista e estudante de arquitetura Stephanie Ribeiro, para uma conversa sobre arquitetura, urbanismo e sustentabilidade.

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Stephanie alerta: “Muitos dos projetos que se dizem sustentáveis não fazem uso de materiais e técnicas condizentes. Alguns apenas utilizam símbolos como ‘energia solar’ ou ‘tetos verdes’, criando soluções isoladas. A sustentabilidade tem como premissa ser sistêmica, integrada“.

Embora pequenas soluções também sejam importantes, é preciso pensar de maneira mais abrangente. Então, pedimos para que Stephanie compartilhasse com a gente alguns projetos que considera modelos em termos de sustentabilidade, unindo arquitetura, permacultura e ações sociais. Abaixo, as escolhas de Stephanie:

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Marta Maccaglia: Sala de Aula multifuncional Mazaronkiari

A arquiteta Marta Maccaglia está ligada a uma série de projetos colaborativos no Peru, em áreas de povos originários, usando técnicas de construção tradicionais da região, proporcionando o processo participativo das pessoas. O projeto dessa sala multifuncional se localiza em uma comunidade nativa Nomatsiguenga no distrito de Pangoa, na Selva Central do Peru. Tem como premissa a versatilidade. Na face norte do edifício, está a cozinha. A construção, como um todo, é de tijolo artesanal. A estrutura é de madeira e a vedação é feita por alguns painéis-persianas, e outros móveis de várias cores que descem e, em 90°, se transformam em mesas. Assim, além de refeitório, o espaço amplo pode ser adequado segundo as necessidades.

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Kere: Biblioteca Escolar em Gando | Burkina Faso

Utilizando o que o seu território natal fornece (madeira, tijolos de bairros e vasos tradicionais feitos pelas mulheres de Gando), Kere criou uma cobertura para o edifício da biblioteca que, além de garantir a iluminação, favorece a ventilação por meio da troca de ar. Assim, o ar seco de Gando se torna agradável, garantindo o bem estar dos estudantes. Com soluções simples, Kere proporciona uma estética encantadora e que supre necessidades. Seu trabalho respeita, antes de tudo, o indivíduo. Considera, inclusive, questões de gênero.

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Vitor Lotufo: Refeitório da Secretaria de Habitação de Osasco | São Paulo

A arquitetura de Lotufo se caracteriza pelo gerenciamento do canteiro e pensamento estrutural para que não haja mau uso/desperdício. É pelo entendimento do material que ele cria estruturas baseadas na natureza, como é o caso desse projeto, cujas estruturas lembram grandes cogumelos, abóbadas nervuradas feitas de tijolo de barro, que possuem um vão de sete metros. A argamassa, além de vedar, envolve garrafas de vidro, responsáveis pela fonte de iluminação entre esses vazios, o que cria um ambiente contínuo, agradável, uma junção de geometrias associadas, onde a técnica se faz essencial.

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Tyin Tegnestue: Casa de Barco

O escritório é conhecido por seus trabalhos que consideram o meio, os materiais e os recursos disponíveis. Uma casa de barco fazia parte do terreno em que o novo projeto foi implantado. Além da linguagem arquitetônica, que serviu como referência para o projeto, o escritório utilizou os materiais do processo de demolição, que deram origem ao revestimento das paredes, pisos e painéis internos.