Moda, pertencimento, Zona Norte e etc

por Cantão

Verdade seja dita: o Rio não é feito só de meninas da Zona Sul. Por acreditar na energia vibrante e na beleza poética (e nada óbvia) que reside na Zona Norte, a jornalista e produtora de moda Carol Rabello criou o blog de moda e lifestyle Zona Norte ETC.

Mostrando que a moda não se restringe apenas do Leme ao Pontal, há dois anos, Carol produz diversos editoriais locais, abrindo espaço para profissionais, modelos, estilistas e lojistas da região. O blog já virou referência de estilo e comportamento pra quem não vive no Rio de Janeiro à beira-mar. Inspirador é pouco!

A novidade é que agora o projeto sai do digital para ocupar o segundo andar do Imperator – Centro Cultural João Nogueira, com a mostra “Retratos da Zona Norte”. São mais de 30 imagens selecionadas por ela e seu marido, o jornalista e fotógrafo Fabiano Albergaria.

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A expo traz as cores da região com editoriais de moda e registros de estilos feitos nas ruas, além de vídeos e looks produzidos por novos estilistas. Todo o material foi produzido pela equipe do blog. Além do próprio interior do Imperator, locações como o Baile Charme no viaduto e o Parque Madureira também fizeram parte do cenário da mostra.

Nós atravessamos o túnel – afinal, a Tijuca é a nossa casa! – e batemos um papo com ela. Confere só:

Você sempre esteve ligada a projetos editoriais e de moda bem interessantes.
Qual foi o estalo pra criar o Zona Norte Etc?

Sempre fui moradora da Zona Norte, mais especificamente do Méier e, trabalhando com moda, comecei a questionar a falta de representatividade do subúrbio nesse mercado. A Zona Norte é riquíssima culturalmente, mas faltava esse olhar documental sobre o estilo da região. Sempre que se fala sobre moda no Rio de Janeiro, a tendência é ficar preso ao padrão “orla” e “zona sul”. A ideia do blog surgiu justamente da necessidade de mostrar que a cidade é muito mais do que isso e que existe uma criatividade pulsante.

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Conta um pouquinho da sua curadoria pra exposição e como foi ter o Imperator, que fica ali no coração do Méier, abraçando este projeto.

Eu tenho uma história pessoal com o Imperator. Cresci vendo shows ali e fiquei muito triste na época em que ele ficou fechado. Foi incrível quando ele reabriu como centro cultural, com diversas atividades e se consolidando como uma das melhores casas de show da Zona Norte atualmente. Desde o início do blog eles foram muito parceiros e, inclusive, nossa primeira foto de street style foi feita lá. Abrir esse espaço para nós foi um presente incrível para os dois anos do blog.

Sobre a curadoria, foi um trabalho árduo. Tínhamos mais de duas mil imagens para filtrar e selecionar. Passamos um bom tempo afinando o que era mais importante ir para a exposição, considerando que precisávamos mostrar um pouco de cada estilo registrado por nós. O resultado foi um apanhado de imagens que representam bem a ZN. Acho que conseguimos uma ótima seleção e, juntando a isso os outros itens da exposição como as fotos dos editoriais que produzimos, os vídeos, os manequins com sugestão de looks e a trilha com novos e clássicos artistas da Zona Norte.

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O projeto fala muito de diversidade e pertencimento. Você acha que a região ainda é encarada de forma pejorativa (do estereótipo do suburbano malandro) pelo mercado de moda?

Aos poucos estamos quebrando isso. Não só o Zona Norte Etc, mas diversos movimentos que atualmente lutam pela representatividade e pela quebra de padrões não só no mercado de moda, mas na publicidade e outros. O blog é mais uma força nesse sentido. Ainda existe preconceito dentro do mercado sim, marcas que não reconhecem seu verdadeiro público e ilusoriamente se comunicam com um nicho de clientes que quando se olha na lupa, não é quem de fato compra a marca. Mas existe também muita ignorância e desconhecimento sobre a cidade. Pessoas que nunca cruzaram o túnel e não fazem ideia da riqueza cultural e estética que existe na Zona Norte. O trabalho é árduo, mas aos poucos vai acontecendo.

Existiu algum critério ao escolher as pessoas e os locais fotografados?

Nós buscamos pessoas interessantes, que tenham um certo diferencial. Não precisa ser uma super produção elaborada, um look incrível. Gostamos de quem tem autenticidade e segurança, seja num jeans e camiseta ou num uniforme de trabalho, como a linda gari que fotografamos no Parque Madureira e que está na exposição. Estilo é muito mais do que roupa, é representar uma atitude, é transparecer uma verdade da forma mais simples. São esses sorrisos que buscamos.

Como tem sido o retorno dos moradores da Zona Norte?

O retorno tem sido maravilhoso e acho que o nosso principal objetivo está sendo alcançado, que é o de dar uma sensação de pertencimento ao morador da Zona Norte. A ideia é que todos saiam da exposição com a certeza de que essa beleza existe no subúrbio, que a cidade é diversa, plural e que todos tem espaço dentro desse universo tão rico que é o Rio de Janeiro. O samba, o funk, grandes manifestações culturais saíram da Zona Norte. A cultura sneaker, diversas tendências de moda, tudo isso sai da Zona Norte para o resto da cidade e para o mundo, então é pra se orgulhar e inflar o peito quando perguntarem de onde você vem, sem medo.

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Quais sites de street style são referências pra vocês?

Eu sou muito fã do Sartorialist, e também acompanho o The Face Hunter e o Street Peeper, apesar de todos eles terem uma linguagem fashion que não seguimos muito. Mas gosto de ver os ângulos que são feitos os registros.

E os próximos passos? Alguma novidade que podemos aguardar por aí?

Estamos em um momento de criação do nosso canal de vídeos, que está sendo preparado com muito cuidado e carinho. Mas ao mesmo tempo em que estamos investindo em mais uma rede, também queremos ficar cada vez mais físicos, presentes, sair um pouco do mundo virtual. Então esperem novidades sobre alguns eventos e workshops!

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Já estamos esperando com muita ansiedade! 😉

Vai lá: ‘Retratos da Zona Norte e Etc’ no Imperator – Rua Dias da Cruz, 170 – Méier. Até 30/10. Segundas a sextas: das 13h às 22h; sábados e domingos: das 10h às 22h. Entrada gratuita.

créditos das fotos: Leandro Enne, Artur Cunha e Fabiano Albergaria