Através de um olhar atento e sensível, Manu Reyes se relaciona com a marcenaria de forma única. Arquiteta e designer, a catarinense também é apaixonada por decoração. Não basta coordenar obras ou construir as peças, ela gosta de participar de tudo.
Utilizando técnicas tradicionais, produz móveis diferenciados – e o melhor: feitos à mão. Sempre buscando a harmonia entre a qualidade da matéria-prima e a funcionalidade de cada peça, ela faz o que mais adora: criar com significado. Em seu processo artesanal, dedica muito tempo e amor à cada peça, lapidando cada uma de forma exclusiva.
Conversamos com a designer para saber mais sobre suas criações e sua relação com a marcenaria:
Você se divide entre a paixão pela criação de móveis e pela decoração de interiores. Como você transita entre uma e outra?
Os dois partem de conceitos muito próximos e são trabalhos complementares. A transição acontece de uma forma muito natural. Não existe pensar em decoração sem pensar nos móveis, e vice-versa. Um depende do outro para se compor.
O mais interessante do seu trabalho artesanal é que cada móvel traz uma particularidade que compõe um desenho, com cores, texturas e formatos singulares. Como você desenvolve cada peça?
Sempre me pergunto uma série de questões antes e durante a definição de um desenho. Como por exemplo: qual a minha intenção com a peça? Como posso fazer diferente? Como o móvel se relacionará com a pessoa e com o espaço? É funcional? E assim vai.
É uma forma de me aproximar e de conhecer minha própria essência. Claro que, às vezes, parte de uma inspiração, de alguma coisa que vi e admirei. Não tem muita regra, o importante é que seja um desenho sincero e que você faça algo que acredite.
O seu desejo é focar mais na essência do design (peças multifuncionais), na matéria-prima (você usa bastante madeira maciça) ou na história que cada peça pode contar?
Cada peça tem sua história, algumas são pedidos idealizados dos clientes. O foco é uma mistura de tudo isso e mais um pouco, mas independente de qualquer coisa, meu maior foco é com a durabilidade das minhas peças. Não quero fazer algo que se descarte rápido. Gosto de pensar que uma peça deve perdurar gerações.
Você acompanha todo o processo de fabricação dos móveis?
Sempre! O processo é a parte mais importante. É através dele que é possível se antecipar os erros. Nem sempre o desenho está resolvido como parece. Muitas vezes (ou quase sempre) se modifica uma peça no decorrer da construção.
Sempre vista como uma profissão tradicionalmente masculina, a marcenaria exige um pouco de força física: o trabalho braçal de carregar, cortar e moldar.
Você acha que a marcenaria ainda é considerada uma profissão de gênero (“coisa de homem”)?
Acho que não. Todos nós, mulheres ou não mulheres somos aptos a trabalhos manuais. Tudo é uma questão de prática e conhecimento na hora de carregar, cortar e moldar. Os mesmos cuidados que uma mulher tem que ter dentro de uma marcenaria são os mesmos cuidados para o homem também. Para ser sincera, a maior surpresa é a quando eu falo: “eu que fiz”. As pessoas ficam admiradas quando percebem que você literalmente colocou a mão na massa.