entrevista: thiago pethit e maria laura

por Cantão

Na última segunda rolou, aqui no Rio, a pré-estreia do primeiro longa da diretora Vera Egito, “Amores Urbanos“. “Que bom que eu venci o cansaço!”, pensei assim que subiram os créditos. “Que trilha sonora incrível!” foi meu pensamento seguinte.

O filme é uma comédia dramática que narra a história de três amigos , jovens anti-heróis, que vivem no mesmo prédio na capital paulista superando suas desventuras amorosas e profissionais com muito humor, empatia e personalidade.

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Comentei com alguns amigos após a exibição que o filme poderia se chamar “Quem nunca?”, afinal todo representante da geração Y já passou por, pelo menos, meia dúzia das situações vividas pelos personagens de Maria Laura Nogueira, Renata Gaspar e Thiago Pethit – o trio arrasa nas interpretações – como a efemeridades das relações, o envolvimento unilateral, a gravidez indesejada, bebedeiras salvadoras, sexo casual, ressacas, conflitos familiares e as dependências afetivas.

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Além do power trio de protagonistas, “Amores Urbanos” também traz no elenco os atores Lucas Veríssimo Brilhante (gato!) e Bernardo Fonseca, a estilista Emannuelle Junqueira e a cantora Ana Cañas. O primeiro longa de Vera Egito também marca o debut de toda a equipe e elenco no cinema, e a estreia dos músicos Thiago Pethit e Ana Cañas como atores.

Pra finalizar, a trilha sonora é um charme à parte. Pensada e trabalhada pela produtora de áudio Mugshot como um personagem da história, a trilha empresta cor e contraste à narrativa de forma precisa. Vinte e cinco músicas entrelaçam os personagens e suas histórias. Destaco as canções da banda “Bicicletas de Atalaia”, do cantor paraense Felipe Cordeiro, da Trupe Chá de Boldo e a canção “Romeo” de Thiago Pethit que embala a cena mais caliente do longa.

Bati um papo rápido com Thiago Pethit e Maria Laura após a sessão. Depois de conferir, corra pro cinema e divirta-se:

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É seu primeiro trabalho como protagonista no cinema. Viver uma personagem com questões bastante tangentes a sua geração facilita ou dificulta seu processo de criação?

Maria Laura: Eu acho que tem os dois lados. Facilita porque estou muito próxima das questões dos personagens, sei exatamente o que eles passam, como se relacionam, quais são as dores e as delícias de cada um e, por outro lado, dificulta também por isso. Quando você, ator, transita por aqueles personagens, o distanciamento fica mais complicado e você não sabe muito bem o que é seu e o que é dele. Claro que todo personagem tem muito do ator, pois é o corpo do ator, as escolhas do ator, a entrega do ator, mas quando ele é de outro universo, a diferença se dá imediatamente. Mas o prazer da criação é sempre o mesmo.

É sua primeira parceria com a Vera? Se não, quais foram as outras?

ML: Conheci a Vera na USP fazendo um personagem para um exercício de direção da ECA pra ela. Éramos muito novas, mas já rolou uma empatia bacana. Depois disso ela sempre acompanhou meus trabalhos, indo assistir minhas peças e nos tornamos amigas. Já participei de um clipe da Tiê que ela dirigiu, um comercial e agora acabamos de filmar uma série para o Canal Sony juntas. Temos um projeto de teatro que partiu do livro “Mutações” da Liv Ullmman e está se tornando uma peça que terá um grito feminino bem forte e fui convidada para fazer um personagem no seu longa “Sahar”, que será filmado depois do “Maria Antonia, a guerra dos estudantes”.

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Você protagoniza o clipe ‘Romeo’ do Thiago Pethit junto com o ator Lucas Veríssimo, um dos seus pares em Amores Urbanos. Na cena, a música embala o romance do casal. Qual sua relação com a música e como ela atravessa seu campo de composição artístico?

ML: Eu danço desde os 6 anos de idade. Fiz ballet clássico por 9 anos e já fiz diversos tipos de dança. Eu tenho um professor que diz que meu raciocínio funciona a partir do rítmico das coisas e é muito verdade. As cenas que vejo e que presencio no meu dia a dia eu enxergo muitas vezes como se fossem coreografias, tudo meio que vira uma dança e quando se fala em dança imediatamente a música (o som) está presente.

Está um pouco difícil de explicar, mas o que estou querendo dizer é que pra mim não existe vida sem música, então consequentemente não existe criação sem ela também. Por exemplo, o som que as teclas do computador estão fazendo agora enquanto respondo essas perguntas viram uma melodia pra mim e minhas mãos já se tornam um pouco bailarinas também. É tudo uma grande viagem, mas ao mesmo tempo tão real e concreto. Ou seja, cada cena de um personagem, tendo música tocada ali ou não, na minha cabeça ela existe e segue junto com meu raciocínio. E não necessariamente é uma canção existente, na maioria das vezes não é, mas eu estabeleço um ritmo, mudando sua freqüência quando necessário, e vou com ele até o final.

Brinquei com você após assistir ao filme que ele poderia se chamar “Quem nunca?”, já que vários assuntos e situações são bastante próximas a nossa geração. Quais das situações vividas pela sua personagem já foram vividas por você?

ML: Além do que é inerente a qualquer ser humano, como ter questões com os pais e levar um fora homérico (risos), não tem muitas experiências parecidas. Diferente da Julia eu sempre soube a carreira que iria seguir, sempre tive o apoio dos meus pais e nunca engravidei.

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Como rolou o convite pra participar do longa e como foi seu processo de composição do personagem?

Thiago Pethit: Não foi exatamente um convite. Foi mais uma intimação do que um convite (risos). Me lembro do dia em que ela me contou que, frustrada de esperar recursos para o longa metragem ‘Maria Antônia – A Incrível Batalha dos Estudantes’, ela decidiu que queria fazer um filme bastante simples em termos de orçamento. Uma pequena ação de guerrilha cinematográfica, entre amigos e sobre amigos.

E foi nessa conversa que ela também me disse que havia um personagem sendo escrito para mim. Ou seja, era meu e o convite estava feito e soava irrecusável. O processo foi divertido, apesar do Diego ser um personagem com muitos dilemas e um tanto melancólico. Tivemos muitas leituras do roteiro em produção, alguns ensaios, e contei muito com a ajuda das duas outras atrizes, Maria Laura Nogueira e Renata Gaspar para encontrar o ponto certo desse personagem. Ou para me expor e emprestar um tanto das minhas emoções para viver ele.

Atuar é mais fácil ou mais difícil do que compor e subir ao palco como cantor? Por quê?

TP: São dificuldades e prazeres bem diferentes entre si. Mas há semelhanças. Nenhum é mais ou menos difícil. O que mais me interessou nesse processo de retomar a atuação – e é também o que mais me interessa em ser músico, ou artista – é que, por mais que nós falemos de ‘personas’ na música ou de ‘personagens’ no caso do ator ou de ‘construção’, eu sempre acreditei muito que só existe ‘verdade’. O pressuposto é contar uma mentirinha. Mas o diálogo real entre artista e público se dá na verdade, no artista explorando e expondo quem ele é. Claro, através de uma máscara. Mas o material é humano e é meu, entende?

Existem facetas, existem fantasias, mas são também 100% dos meus sentimentos e experiências sendo entregues em função dessa reflexão. Acho que minha conclusão é que, em ambos os casos, a dificuldade das duas funções (músico e ator) ou de qualquer arte que dependa 100% do material físico, do corpo dos artistas, é justamente que essas artes precisam ser catárticas. Precisem desse humano. Seja o Thiago, seja o Pethit, seja o Diego.

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Seu personagem é bastante complexo, tem sentimentos confusos pelo namorado e pelo pai mas é ótimo conselheiro e amigo. Quais das situações vividas pelo seu personagem já foram vividas por você?

TP: Assim ipsis litteris, nenhuma. Mas existem semelhanças nas vivências. Aliás, acredito que esse seja o ponto mais interessante do filme. Todos, absolutamente todos nós, temos esses mesmos problemas, não? Com os pais, com os namorados. No caso do Diego, ele sofreu uma rejeição familiar muito forte. Eu, por exemplo, não passei por isso. Minha família é maravilhosa, meus pais são generosos, cabeça aberta, eu tive essa sorte e privilégio. Mas eu já sofri outras rejeições. Já sofri preconceito, já fui julgado pelas minhas escolhas ou pela minha sexualidade. Eu entendo essa dor.

Como cantor, o que seu público pode esperar pro 2º semestre? Tem previsão de show no Rio?

TP: Poxa, gostaria de tocar muito mais no Rio do que eu realmente toco. As pessoas, meu público, creem que eu não faço muito esforço para estar tocando em solo carioca, mas olha, vou aproveitar e fazer esse apelo: o Rio é uma cidade sensacional, tenho um público imenso, apaixonado, meus shows são sempre memoráveis por aí. Mas o Rio é também uma cidade muito difícil para tocar em situações favoráveis. Seja pelas propostas que as pouquíssimas casas de show fazem, pela falta de estruturas. O Rio não é fácil. É sempre necessário fazer um certo investimento para tocar aí, o que é uma pena, até porque não é uma cidade interiorana ou com poucos recursos.

A vida cultural do Rio precisa abrir mais espaços para o que está fora do mainstream. Até mesmo para que os artistas independentes cariocas, e são muitos, possam crescer e formar uma cena forte como a que rolou em São Paulo há tantos anos. Eles merecem e está na hora. Estamos negociando um show para acontecer por aí em julho! Seria lindo voltar com a turnê. Quanto ao futuro, eu não tenho planos para um próximo disco ainda e gostaria muito, muito mesmo, de conseguir tirar férias, que é algo que eu não faço há 6 anos, desde que comecei minha carreira como músico.

créditos das fotos: Gianfranco Briceño