O novo livro da escritora Clara Averbuck, “Toureando o Diabo”, acaba de ser lançado. Pela primeira vez, Clara esteve envolvida em todas as etapas do processo editorial, desde a campanha de financiamento coletivo pelo Catarse até o envio dos livros pelos Correios, passando pelas tratativas (e imprevistos) com a gráfica. Mas ela não estava sozinha. Ao seu lado, estava a amiga e parceira de projetos de longa data, a artista plástica Eva Uviedo.
Conversamos com as autoras sobre a experiência de produzir e lançar o livro de forma independente.
A obra começou com a proposta de ser um romance ilustrado e acabou se tornando algo mais experimental. Nesse sentido, vocês sentem que o livro novo se parece em algo com o projeto “Nossa Senhora da Pequena Morte”, que fizeram juntas no passado?
Eva: Sim, mas penso que é uma evolução daquele formato. No “Nossa Senhora da Pequena Morte”, a Clara já trouxe todos os textos prontos e eu ilustrei. Fizemos muita coisa juntas, horas no estúdio trabalhando, ela escrevendo os textos à mão ou à máquina. Mas nesse a gente foi um pouco além. A gente tem uma narrativa que é parte texto, parte desenhos. Por exemplo, tem uma hora no romance em que a protagonista conta que vai fazer uma coisa e a página seguinte é um desenho mostrando o que aconteceu. Ele não está lá ilustrando o texto, ele faz parte da história.
Vocês trabalharam em conjunto o tempo todo?
Clara: Não, várias partes eu escrevi em casa. O começo já estava pronto e eu fui escrevendo as coisas em grandes blocos — algumas noites em claro, alguns dias inteiros. O que fizemos juntas foi editar, descartar, e selecionar as coisas que já estavam escritas, como bilhetes, caderninhos, guardanapos de bar, e ir encaixando na narrativa que fomos criando com texto-desenho.
Qual foi o maior desafio em combinar textos e ilustrações?
Eva: Entender a personagem é o maior desafio. Foi muita conversa, muita interação com a Clara pra que eu pudesse criar mentalmente uma representação gráfica. Facilita que a gente já se conhece bastante, mas ainda assim isso foi feito aos poucos. Muitos desenhos iniciais foram descartados. Decidimos que essa representação não necessariamente precisaria ter uma cara — inclusive não tem; existe sempre uma figura feminina, mas ela tem vários cabelos, vários corpos, não é sempre a mesma. Ninguém é. E as emoções muitas vezes são representadas apenas por padrões gráficos. Por exemplo, em todo término de relacionamento aparece uma estampa com cruzes. Quando ela está em ebulição, tem um grafismo parecido com um turbilhão. E por aí vai.
Do ponto de vista editorial, vocês desempenharam diversos papéis e tiveram que acompanhar cada etapa da publicação do livro. Como foi essa experiência?
Clara: Tudo foi um desafio, a gente não sabia fazer nada. Até o processo criativo foi diferente, pois quando nos demos conta de que não precisávamos seguir nenhum molde pré-definido é que começamos realmente a fazer o livro como está. Mas a parte logística é um pesadelo pra mim. A Eva lida com isso um pouco melhor, eu só de olhar uma planilha de excel já quero chorar, imagina então lidar com gráfica, orçamento, todas essas coisas. É um saco. Mas também é maravilhoso pensar que poderemos pagar nossas contas com um livro que nós mesmas fizemos.
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