O mundo intuitivo de Lu Fortes

por Cantão

O trabalho de Luana Fortes me instiga. O seu mundo é um convite à infância, à imaginação através de traços precisos, sombreados concretos e surrealismo contemporâneo.

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Sempre tinha um lápis na mão, desenhava tudo por onde passava, mas foi em Paris, onde morou por 4 anos, que concretizou o seu caminho e deu ouvidos a sua intuição.

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Depois de anos sem vê-la fui convidada para a sua exposição, que está rolando aqui no Rio de Janeiro e vale super a pena. São tantas programações que estava dividida na noite da abertura. Mas como sempre gostei do trabalho da Lu, resolvi dar um pulinho lá. Ainda bem que eu fui!

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É através do sentir que se entrelaçam as mensagens e ideias da artista. O seu trabalho é muito inspirador e te leva, sem que você perceba, para outro lugar. Um lugar onde espaço-tempo se dissolvem, e lá tudo é possível. Denso, pop e inteiramente autêntico, o universo imaginário de Lu vira uma experiência sensorial.

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Resolvi perguntar pra ela um pouquinho sobre esse “lugar” que me parece tão mágico, sombrio e profundamente cativante. Dá uma olhada:

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De onde vem a sua inspiração?

O que eu faço é essencialmente intuitivo. Procuro reforçar minha intuição não julgando ideias espontâneas e deixando elas surgirem. Tento me focar na essência das mesmas, fabricando um universo baseado em memórias de infância, sonhos, viagens espirituais e musicas xamânicas.

Busco uma espécie de liberdade, me agarrando a tudo o que me faz esquecer aonde eu estou. Uso o “aqui” e “agora”, esse espaço-tempo,  como um passaporte para o autoconhecimento e a sensibilidade. É também por isso, que muitas vezes não defino cenário, gosto da força do branco que envolve os meus personagens e elementos, pois reforça a ausência de tempo, e convida o observador a criar uma historia em torno da obra a partir d a ativação das suas próprias memórias.

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O que tem por trás dos seus personagens? Como eles surgiram?

Muitos vieram intuitivamente mesmo, uma ideia pronta, como uma visão. Outros nasceram da vontade de construir uma ideia. Uso o antropomorfismo em busca de criar uma narrativa, transmitir mensagens metafóricas e fazer uma analogia com os contos de fadas e historias infantis, onde criaturas, seres e animais personificados, aparecem com frequência.

Meu trabalho navega entre esses dois opostos, os quais eu tento usar como aliados: a mensagem que desejo passar e o pensamento intuitivo.

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Quem você mais admira no seu meio?

Gosto muito do trabalho do Pedro Jardim, que expôs ao meu lado no Art Rua; amo os franceses Violaine et Jérémy; o coletivo belga Hell’o Monsters; as ilustrações lindas da Ana Albero; o incrível Andrew Rae; os desenhos sujos do alemão Stefan Zsaitsits; e, é claro o francês Killoffer, meu grande mentor que me ajudou a encontrar meu estilo próprio.

A exposição acontece até 20/10 na galeria da Q.Guai na Av. Henrique Dumont, 65 – Ipanema.

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“Vem pode entrar.
Entra na ciranda
Aqui, rego as minhas plantas
e conto histórias de menina
nem tanto ao céu
nem tanto a terra
aqui estou,
no presente que se passou
já faz anos
ou
ainda está por vir.

vem, aqui não tenho filtros,
meu mundo lúdico
pode ser seu também

como respirar
risco o papel e dali
de dentro da minha mão
te convido pra entrar

somos uma família
não precisa ter medo
colhemos frutos pela manhã

nossa casa mora aqui
pendurada no pescoço
nela usamos sorvete de chapéu
e tapete de chão

não tenha medo,
tem muita beleza aqui dentro,
pode entrar.”

créditos da última foto: QGuai