Letícia Novaes entrevista Brunno Monteiro

por Cantão

Conheci o cantor e músico Brunno Monteiro no show em homenagem ao cantor Cazuza, a coletânea “Agenor – Canções do Cazuza”, que Lorena Calábria e DJ Zé Pedro fizeram. Eu participei com o Letuce, cantando “Eu não amo ninguém” e não esqueço do Brunno cantando “Nunca sofri por amor”. Eu talvez já tivesse visto o Brunno antes, minha memória de peixe é ruim, mas desse dia não esqueço: Brunno se entregou legal à letra. Botei fé, não esqueci.

Após seu primeiro disco, ‘Ecos da Rua‘ e do EP ‘Compacto‘, Brunno lança agora o álbum ‘DUPLO‘, produzido pelo próprio e por JR Tostoi. O disco conta com lado A e lado B, “ou como o diagrama de yin e yang, com o branco carregando uma porção do preto e viceversa. Unidade no conjunto e identidade nas partes”.

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Uma tarde, Brunno perguntou se eu não tinha nenhuma poesia dando sopa. Sempre tenho. Pensei numa em inglês, já torcendo pra voz dele rasgar num rock e foi o que rolou. O resultado foi a Ice Cream, uma música que fala sobre verão, sorvete, tudo de um jeito um tiquinho dirty, que é pra dar o charme.

Fiz seis perguntinhas para ele e divido aqui com vocês as respostas curiosas desse artista promissor:

Qual sua primeira lembrança relacionada à música na sua vida? Quantos anos você tinha, o que você ouviu e o que você sentiu?

Na minha casa sempre teve muita música, e aos poucos fui notando Tom, Chico, Caetano, Beatles… mas uma memória mais firme mesmo, uma que tenha ficado, foi de quando toquei, mesmo que intuitivamente, meu primeiro instrumento. Não foi uma música específica, mas eu tinha sete anos e fui levado para o Bloco dos Seresteiros, em Conservatória, e lembro de ter me sentindo muito orgulhoso de fazer parte daquele corpo musical que era o bloco, tocando tamborim. Mais tarde, tenho ainda o registro de uma música (certamente não a primeira, mas a que primeiro marcou), que foi “Anarchy in the U.K.” dos Sex Pistols. Toda aquela violência, a  anarquia, o anticristo e o desejo de revolução transformaram para sempre aquele moleque de 11 anos.

Quando bateu forte que você, além de ouvir, queria fazer música?

Foi quando eu vi o Kurt Cobain destruindo uma guitarra depois de um solo enorme de microfonias. Foi incrível ter contato com toda aquela sinceridade e intensidade que ele botava nas composições e no modo de tocar guitarra. Eu quis aquilo para mim também.

Duplo, seu último álbum, é cheio de parcerias. Qual a importância da figura do outro na sua vida? Como você se relaciona com parcerias? É do tipo que sugere, cede, pira junto, trava?

Eu curto bem fazer junto! Pra mim é muito importante ter esse outro olhar nas minhas composições, poder chegar em lugares que eu não conseguiria sozinho ou simplesmente para ter um pouco da inspiração de compositores que eu admiro nas minhas músicas. Às vezes eu peço uma letra, às vezes mando uma melodia e às vezes eu só saio me metendo mesmo… (risos). Esse foi o caso da “Café pedra de gelo”: o Rabujah estava cantarolando o verso inicial dela, eu curti bastante e fui complementando ele sem permissão. Quando percebemos já estávamos fazendo tudo junto, desde da letra até a melodia e o arranjo.

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Se você pudesse ter uma vida dupla, como você visualiza essa vida? Algum desejo oculto por um super poder?

Olha, se eu pudesse ter uma vida dupla eu seria um ermitão do campo de manhã e um rockstar decadente à noite. Essa coisa da calmaria e da explosão sempre estiveram presentes na minha vida tipo um yin/yang mesmo. Acho que um superpoder que me ajudaria nesse caso seria o de se teletransportar, estar na calmaria e na multidão num plim! Fora os tantos lugares que eu adoraria conhecer e que são tão distantes, isso e outros planetas, claro, já que eles ainda não vieram me buscar.

Sua voz me remete muito a rock n’ roll, gritos rasgados, sinceros e entregues. Quem foi sua grande influência, que cantores ou cantoras você ouvia e ainda ouve e sente um arrepio de confirmação?

Olha, posso dizer que a galera que me influenciou desde mais novo, volta e meia ainda está me ensinando alguma coisa nova, então o arrepio é constante. São eles: Elis Regina, Kurt Cobain, Janis Joplin, John Lennon, Sergio Sampaio, Jim Morrison,  Beth Gibbons (Portishead) e Johnny Cash (que me ensinou a usar meus graves). Uma cantora que conheci há pouco tempo e tem me influenciado bastante é a Merrill Garbus, vocalista do Tune Yards, ela tem um alcance vocal muito grande, seja pro grave ou pro agudo, e isso influência muito na maneira dela compor as melodias; tenho tentado trazer isso para minhas composições também.

Qual sua dupla favorita? Seja no cinema, música, desenho, o que for?

Sal Paradise e Dean Moriarty, os alteregos de Jack Kerouac e Neal Cassady em ‘On the Road’ (que até teve uma adaptação pro cinema, mas não curti muito). Aquela busca eterna pela verdade do ser humano, a vontade de novas sensações, conhecer outras culturas, a coisa de botar uma mochila nas costas e cruzar o país pelas estradas, sempre me deixou intrigado e foi uma influência (e ainda é) na minha maneira de viver e ver o mundo.

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créditos das fotos: Juliana Rocha