Fe Moreira conversa com Thalita Campbell

por Fernanda Moreira

Ter a natureza como matéria-prima, visão de futuro e imersão profissional. Ou seria pessoal? Fato é que este é o caminho que vem atravessando profundamente o dia a dia da designer e bióloga Thalita Campbell, nossa entrevistada de hoje. Foi a partir do mestrado em botânica que ela se deu conta de que a aproximação com a natureza poderia ser algo plausível, integral e multissensorial na vida, cuja troca é de um aprendizado infinito. Tudo o que é vivo é cíclico e dá um jeito de permanecer, ainda que na resistência.

“A natureza vem desenvolvendo soluções para viver neste mundo há 3.85 bilhões de anos, data em que a vida surgiu na Terra. Por isso, vários desafios que enfrentamos hoje, outras espécies já precisaram lidar e solucionar. Um olhar generoso para outros organismos pode nos levar a caminhos promissores para criarmos relações mais saudáveis com o nosso entorno, e isso inclui nossa relação com o consumo, com a criação de produtos e até mesmo com a forma de despertar desejo”, conta Thalita.

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Foi então que se debruçou sobre a biomimética, ciência e metodologia que defendem que a natureza pode ser nossa grande mentora. “Bio significa vida e mimética , mimesis. Ou seja, ao pé da letra, seria algo como imitar a vida”, explica. Perceber que a natureza pode ser uma poderosa ferramenta de aprendizagem em um mundo em constante e imprevisíveis mudanças nem sempre é consciente, mas, creio, é inerente ao ser humano. Thalita teve uma infância muito viva no quintal dos avós, visitando frequentemente o Parque Nacional do Itatiaia-RJ.

“Hoje vejo que sou bióloga e designer porque somei tudo que vivi e todos que me atravessaram, principalmente na infância. Acho que observar a natureza é ter noção sobre ciclos, assim como ser mulher, por exemplo. Entender que os processos são cíclicos, que tem início, meio e fim, é uma maneira de ter mais consciência sobre nosso próprio corpo, e se apropriar disso é a forma mais inteligente de encontrar nossas potencialidades e aceitar nossos limites”.

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Essa construção, que bom, não depende somente de especialização científica. Pedi à Thalita que nos desse algumas dicas para quem é aspirante ao assunto e ela contou que, por mais que pareça óbvio, relembrar que somos seres naturais e parte da natureza é importante nos dias de hoje: “muitos estudos demonstram que estar próximo a plantas, matas e florestas melhora nossa função cardíaca, diminui o nível de cortisol (o hormônio do stress) no corpo e aumenta a sensação de bem estar. Eu acredito que conhecer melhor sobre plantas é um caminho essencial para que nossa conexão com o meio em que vivemos seja cada vez mais saudável”, revela.

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A Escola de Botânica, que se propõe a difundir conhecimento científico para leigos com uma linguagem simples e com muitas opções de cursos, e a Casero Residência são algumas opções de programas frequentes de imersão na floresta e estudos sobre arte e natureza. Visitas a Jardins Botânicos, que são organizados justamente para estreitar o contato entre a ciência das plantas e os visitantes, também são alternativas.

Brinco que a Thalita tem um Instagram Botânico – e foi através dessa plataforma que eu a conheci. Lá, ela compartilha fotos de seus estudos e também de um cotidiano particular, que inclui, sobretudo, a maternagem. “Durante a gravidez, comecei a estudar como meus órgãos se deslocavam no abdome para fazer caber um bebê que cresce rapidamente, como o fluxo sanguíneo se multiplica e o centro de equilíbrio do corpo vai mudando à medida que o peso da barriga e dos seios aumentam. Para mim, nem foi uma questão de romantizar a gestação e, sim, de analisar a capacidade natural que nosso corpo tem de absorver mudanças, de ser plástico e flexível para abarcar novas realidades”.

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Percebo que observação e auto-observação são palavras de guiança nesse mapa investigativo rumo a uma conexão com o que há de mais primário, orgânico e instintivo na vida. É um caminho de volta, mas também de ida. Assim, inspirada no bate-papo com a Thalita e na possibilidade de nos enxergarmos em essência como realmente somos, te convido a uma experiência do olhar. Imagine os sons e as cores a sua volta, sinta como o seu corpo pulsa nesse instante e a sua habilidade de se ater a isso. Na dúvida, não se esqueça: você é a imensa natureza que te cerca.

créditos das fotos: Luciana Lasmar