Transição Capilar: definição, dicas e desafios com Lilian Farrish

por Cantão

A cada scroll a mais no Instagram é possível ver uma nova mulher dizendo adeus à chapinha, ao secador, ao alisante e às progressivas e dando uma nova chance ao formato natural do cabelo.

A transição capilar tem sido um movimento de beleza em crescente, que corresponde ao período em que se deixa o cabelo natural crescer enquanto a química vai ficando nas pontas. Depois que a parte alisada atinge a altura desejada, é feito o corte do cabelo – chamado de big chop.

Para muitas mulheres, esse é um processo de aceitação, liberdade e resistência. A transformação revela um movimento de aceitação de quem antes sofria com a pressão estética e com o preconceito. Além disso, demonstra um movimento de construção de identidade étnica e estética para mulheres negras.

Nós entrevistamos a carioca e profissional de mkt digital Lilian Farrish, que há 1 ano e 9 meses está passando pelo processo. Ela conta um pouco da sua experiência com essa mudança tão profunda interna e externamente: 

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Conta um pouco sobre seu background e como isso afeta e potencializa a sua autoestima e forma de se colocar pro mundo. 

Moro em um Rio de Janeiro que muitas pessoas não conhecem. Campo Grande é um bairro mais afastado do centro e da zona sul. Em tempos de quarentena, estou focada no meu conhecimento pessoal. Continuo a terapia a distância e estou aproveitando pra brincar mais com a moda e a estética pra descobrir novas versões de mim mesma.

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Quando e por que você decidiu começar a transição capilar? 

O curioso é que não teve um momento exato. Eu estava em um período de muito trabalho e sem tempo de ir ao salão fazer escova progressiva. Estava mantendo meu cabelo com chapinha e, quando vi, tinham se passado uns 6 meses e a raiz estava nascendo super cacheada e linda. 

Sempre amei o meu cabelo alisado. Gosto da praticidade, da franjinha, não tenho problema com ressecamento, quebra nem nada. Mas quis dar esse passo para entender mais um pouco da minha identidade e me ver de uma forma diferente do que eu estava acostumada. Afinal, liberdade é isso: é poder gostar do meu cabelo alisado ou natural e brincar com as diferentes versões de mim mesma.

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Esse processo requer paciência e algumas técnicas para facilitar o dia a dia com as diferentes texturas. O que você tem feito?

Requer muita paciência! Mais do que eu imaginava. Até porque o cabelo cacheado demora mais a crescer. Ele cresce, enrola e é difícil reparar.

Até o começo da quarentena eu estava passando pela transição com a chapinha. Tinha uma rotina muita corrida e, pra mim, a chapinha era a forma mais prática. Apesar de não ser o método mais aconselhado – por provocar um alisamento térmico – li diversos relatos de meninas que se deram bem com esse processo. Além disso, quando eu lavava o cabelo, mesmo após a chapinha, via os cachos voltando e resolvi continuar assim.

Depois de uns meses fiz um corte que não gostei e passei um bom tempo usando ele preso e insatisfeita. Agora ele já cresceu bastante e, como passo mais tempo em casa, assumo as duas texturas no dia a dia. Estou investindo em máscaras de tratamento e umectação pra que os fios cresçam saudáveis. Ultimamente, me arrisquei nas tranças e estou muito apaixonada. Se soubesse que seria tão divertido teria usado desde o começo.

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Para além da questão externa e estética, a transição capilar também é um processo de mudança interna, onde muito coisa é ressignificada. Como tem sido para você? 

Você confronta todas as inseguranças do passado que te fizeram alisar o cabelo, suas incertezas com a própria aparência, a facilidade de admirar o outro e a dificuldade de se aceitar e, no meu caso, como mulher negra, as questões raciais se tornam muito mais latentes. Era recorrente lembrar de situações de racismo que passava por ter o cabelo crespo.

Até essas questões internas viessem à tona na terapia e eu pudesse tratar, foi muito difícil. Eu achava que não ia conseguir dar esse passo. Mas, com esse caminho percorrido, olho pra trás e vejo que cada passo valeu a pena e faria tudo de novo se fosse preciso.

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Quem foi a sua maior inspiração pra iniciar o processo?

Meu pai. Ele teve uma história de vida muito inspiradora e faleceu quando eu tinha 8 anos. Foi uma pessoa super importante e presente na construção da minha identidade quando criança, inclusive pela semelhança física. Quando ele se foi, ficou um vazio que eu não sabia como preencher e, com o tempo, entendi o quanto era importante resgatar essas raízes.

Também foi muito importante começar a trazer mais representatividade pras minhas referências estéticas e para as pessoas que sigo nas redes sociais, já que sou tão ligada a moda. Algumas mulheres que me inspiram muito são as atrizes Yara Shahid e Viola Davis e as artistas plásticas Sharon Alexie e Torin Ashtun.

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Que a história incrível da transformação da Lilian te inspire também! Quer acompanhar a transição dela? É só seguir a musa aqui!