Dicas de leituras para 2018

por Fabiane Secches

Convidamos algumas mulheres para compartilhar com a gente quais leituras recomendam para 2018.

As entrevistadas indicaram títulos de diferentes gêneros literários e contaram um pouco sobre os livros abaixo:

Amanda

Amanda Mont’Alvão Veloso, psicanalista

Adolescência em cartaz
Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso | Editora Artmed

Três de meus temas mais queridos — psicanálise, cinema e adolescência — em textos cheios de delicadeza e simplicidade. Os autores premiam nossas lembranças da vida e de filmes como As Vantagens de Ser Invisível e Juno com reflexões assentadas no valor dos conflitos, das angústias e das perdas que preenchem nossa existência.

AnnaVitoria

Anna Vitória Rocha, jornalista e editora do Valkirias

A mãe de todas as perguntas
Rebecca Solnit | Editora Companhia das Letras

Mais uma coletânea de ensaios da historiadora e ativista americana Rebecca Solnit, sendo Uma Breve História do Silêncio o principal deles, no qual a autora discorre de forma profunda e abrangente — mas com prosa acessível, livre de academicismos — a respeito do silêncio como aspecto essencial para a manutenção da opressão feminina. O que mais chama atenção na leitura é a forma como a autora discorre sobre as maneiras como as mulheres estão quebrando esse silêncio, principalmente através da internet. O livro foi escrito antes da onda de denúncias contra Harvey Weinstein que desencadeou movimentos como #MeToo e #TimesUp, o que torna a leitura ainda mais interessante pela perspectiva aprofundada que a autora dá a esses mecanismos, revelando que desafiar nossos silêncios é uma das coisas mais poderosas que podemos fazer.

Beatriz

Beatriz Masson Francisco, professora e mestranda em Teoria Literária e Literatura Comparada

O conto da aia
Margaret Atwood | Editora Rocco

Considero este livro extremamente necessário para refletirmos a respeito de nossa sociedade atual. Publicada em 1985, a narrativa de Atwood voltou a ser discutida e debatida não apenas por conta de sua bem sucedida adaptação televisiva, mas também por falar de um futuro distópico que nos parece assustadoramente próximo. A obra apresenta ao leitor a república de Gilead, cujo governo fundamentalista cristão trata de acabar com todos os direitos das mulheres. Trabalhar, estudar, manifestar desejos, abortar… tudo é considerado digno de punição. As mulheres férteis, as aias, são enviadas às casas de famílias da alta sociedade com o único objetivo de gerar um herdeiro para seu comandante. O relato de Offred, aia protagonista do livro, é bastante motivador para que não nos silenciemos em um mundo onde bancadas evangélicas tentam tomar decisões a respeito de nossos próprios corpos e onde presidentes como Donald Trump são eleitos.   


Clarissa

Clarissa Wolff, escritora

Os diários de Sylvia Plath
Sylvia Plath | Biblioteca Azul (selo da Globo Livros)

Uma das vozes mais corajosas da literatura, Plath se transformou em um mito pelo seu suicídio. A morte a alçou a um lugar privilegiado no meio da literatura e quando se fala dela — mesmo aqui, nesse parágrafo — ela parece vir em primeiro lugar. Não deveria. Seus poemas não têm medo da feiúra, trazem imagens poderosas e intensas envelopadas em versos, rima e ritmo de uma musicalidade ímpar. Sua prosa é sincera, afiada, e muito inteligente — tanto em seu único romance como em sua coletânea de contos, que também será publicada no Brasil ainda esse ano. Mas é em seus diários que vemos que Plath é escritora antes de tudo — antes de ser mãe, esposa, mulher. Suas histórias, digressões, reflexões são desenvolvidas de forma muito literária. É um mergulho sem volta em uma mente rica, deprimida, apaixonada e, me perdoe Nietzsche pelo roubo, humana, demasiada humana.

Cintia

Cintia Andrade, professora e editora

O país das neves
Yasunari Kawabata | Editora Estação Liberdade

Um romance curto do vencedor do Nobel de literatura de 1968, Yasunari Kawabata. O livro conta a história dos encontros e desencontros entre um homem de Tóquio, Shimamura, e Komako, uma gueixa em formação que atende a uma hospedaria de um pequeno povoado – o chamado País das Neves. Com diálogos e cenas curtas e inconclusivas, Kawabata não põe no papel mais do que o necessário e conta com o leitor para preencher as lacunas do texto.

Daniella

Daniella Origuela, professora e pesquisadora

Dias de abandono
Elena Ferrante | Biblioteca Azul (selo da Globo Livros)

Entrei na “onda Ferrante” ano passado e devorei a tetralogia da série napolitana. Mas Dias de abandono provocou em mim a catarse final que Ferrante é capaz de causar na gente. Fazia tempo que não me identificava e me via tanto num livro. Foi de chorar, chorar muito, pensar, refletir e revisar minha separação de uma forma muito profunda. Olga e Mário, Olga sem Mário, Olga com os filhos, tudo que Olga deixou por Mário. Tudo que a gente deixa por amor. Arrebatador em cada linha, cada vez que Olga sente raiva, se perde e tenta se encontrar.

Jarid

Jarid Arraes, escritora

Ultraviolenta
Pilar Bu | Editora Kotter

Pilar escreve a poesia que mais gosto de ler: a visceral. Um livro obviamente forte, impactante, que parece nos apresentar um panteão de deusas furiosas. Alguns dos seus poemas podem ser lidos gratuitamente no Mulheres que escrevem.

Laura

Laura Pires, escritora

O ano em que morri em Nova York
Milly Lacombe | Editora Planeta

Esse foi o livro que mais mexeu comigo no ano passado e gostaria de indicar essa leitura para qualquer pessoa que esteja em busca de si mesma. A história começa com um término que funciona como estopim para uma jornada de autodescoberta da personagem. É impossível não se envolver e não crescer junto com ela.

Michelle

Michelle Henriques, mediadora do projeto Leia Mulheres

Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis
Jarid Arraes | Editora Pólen

Confesso que fui muito negligente com as nossas escritoras contemporâneas. Demorei muito tempo para descobrir as obras de algumas delas, mas felizmente estou reparando essa falha. Por exemplo, eu não conhecia nada de cordel, e o livro Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis, de Jarid Arraes, me apresentou a esse gênero incrível. Não apenas isso, ela me apresentou a mulheres inspiradoras que foram esquecidas pelos nossos livros de história.

Stephanie

Stephanie Ribeiro, arquiteta e escritora

Memórias Inventadas — Terceira Infância
Manoel de Barros | Editora Planeta

Certamente foi Manoel de Barros que me fez amar poesia. Ele tem uma escrita que é tão sedutora por ser simples e falar do que é simples, ao mesmo tempo em que é corajosa, ao se expor da forma como ele se expõe. O livro Memórias Inventadas é o meu livro de cabeceira, suas ilustrações também são cativantes e seus poemas são presentes que me dou sempre que preciso de algo que me inspire a continuar. Como escreve o autor: “Eu não sei nada sobre as grandes coisas do mundo, mas sobre as pequenas sei menos.

Tais

Taís Bravo, tradutora e editora do Mulheres que escrevem

O clube dos jardineiros de fumaça
Carol Bensimon | Editora Companhia das Letras

Um livro polifônico que dá voz a diferentes perspectivas com um tema em comum: o desejo de uma vida fora do progresso e das conquistas óbvias. Em um trabalho de admirável maturidade, Bensimon consegue conciliar uma perspectiva panorâmica com a delicadeza dos detalhes, criando um romance denso e, ao mesmo tempo, cativante.

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Para mais dicas de leitura, indicamos a ótima compilação feita pela pesquisadora Thaís Rigolon, que entrevistou 40 mulheres pedindo indicações de escritoras para ler em 2018. O mapeamento traz 149 autoras de 29 países.: “Só procurei mulheres e só pedi a indicação de livros de escritoras por pura compensação histórica”. Confira a lista completa aqui. 😉