Mulheres que Escrevem

por Fabiane Secches

O projeto Mulheres que Escrevem começou há dois anos com uma newsletter. A ideia surgiu a partir de conversas entre duas amigas, Taís Bravo e Natasha R. Silva, que apostaram na ideia de que muitas de suas angústias e inseguranças relacionadas à escrita não eram apenas questões individuais, mas também “consequência de discursos e estruturas sociais construídas ao longo de séculos”, dizem.

Aos poucos, Taís e Natasha conseguiram construir um espaço de reflexão que busca debater o mercado editorial e criar novas possibilidades literárias e culturais focadas na escrita de mulheres: “Apesar de nossas já corriqueiras inseguranças, esses encontros proporcionam exatamente o que esperávamos: trocas inspiradoras, laços mais fortalecidos e a determinação para seguirmos juntas. A nossa intenção continua a mesma desde o início: queremos que a iniciativa Mulheres que Escrevem contribua cada vez mais para a profissionalização e a publicação de escritoras”.

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Atualmente, a equipe do Mulheres que Escrevem é formada por três mulheres —  a escritora Estela Rosa se juntou à equipe central —,  além das colaboradoras convidadas: “Nosso principal trabalho é realizar curadoria, divulgação e edição de conteúdo produzido por mulheres, além de realizar encontros que debatam a presença das mulheres no universo da escrita”.

Conversamos um pouco com a Taís, que nos contou mais sobre o projeto e seus desdobramentos:

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Como vocês se conheceram? Conte um pouco do início do projeto para a gente.

Eu [Taís] e Natasha Silva nos conhecemos no ensino médio. Desde essa época, compartilhamos nossas escritas e vivências em uma correspondência de emails, mensagens de texto e áudios diários. A ideia inicial foi simplesmente tornar público um diálogo entre escritoras que já existia em diferentes instâncias —  nos bares, livrarias e espaços virtuais e ver até onde esse movimento podia nos levar. Em 2016, sentimos a necessidade de dar um salto e testar essa mesma experiência fora da internet. Foi assim que realizamos nosso primeiro ciclo de encontros, com a parceira de diversas escritoras e da ONG na qual eu trabalhava na época.

A Estela Rosa participou assiduamente desses encontros e desde o início tivemos uma conexão muito forte. Ao fim desse ciclo, ela já estava completamente envolvida com a iniciativa e passou a integrar a equipe e a nossa correspondência diária, somando muitos poemas e gifs maravilhosos à Mulheres que Escrevem. Gosto de dizer que a Estela passou, em poucos meses, de um crush de amizade a um bem sucedido casamento literário, porque nossa dinâmica atual é desse nível de companheirismo e parceria. Acho que nossas conversas iniciais não são distantes das que temos ainda agora: são sobre a vida, e sobre o modo que escolhemos lidar com ela, escrevendo. E, infelizmente, ainda são sobre os silenciamentos, violências e receios que interpelam diariamente nossas escolhas enquanto mulheres que escrevem.

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Vocês defendem a importância de estabelecer discussões críticas para além da universidade e têm organizado encontros presenciais, como os que acontecem todo mês na Livraria Blooks do Rio de Janeiro. Como tem sido essa experiência?

Depois do primeiro ciclo de encontros que realizamos no ano passado surgiram novas demandas e oportunidades. Uma delas —  talvez uma das mais sensacionais — foi essa parceria com a Blooks. Os temas dos encontros são uma tentativa de visibilizar as diferentes práticas nas quais as mulheres que escrevem estão envolvidas — e, na maioria das vezes, uma mesma mulher se ocupa de mais de uma dessas práticas, sendo escritoras, pesquisadoras, tradutoras, editoras, enfim, exercendo múltiplos ofícios. Escolhemos as convidadas dos eventos sempre levando em consideração nosso objetivo de fortalecer uma rede de mulheres que ainda estão se estabilizando em suas carreiras. Assim, geralmente, nossas participantes são mulheres que de algum modo já colaboravam ou se engajavam na conversa que propomos. Para mim, a experiência de realizar esses encontros tem sido transformadora.

É uma combinação entre a empolgação e o medo. Afinal, reconhecemos que colocar uma iniciativa como a nossa no mundo é assumir,  inevitavelmente, algumas responsabilidades e lidar com diferentes expectativas que nem sempre podemos ou estamos dispostas a cumprir. Sobretudo, é uma vivência que ensina pela prática. De forma alguma sabíamos como conduzir, planejar e concretizar eventos como os nossos, mas simplesmente nos dispomos a tentar e, assim, mensalmente aprendemos um pouco mais. Acho que se a Mulheres que Escrevem tem alguma missão é mostrar que não precisamos esperar a validação de ninguém para sermos quem somos, para fazer o que desejamos, que somos nós mesmas que devemos nos autorizar a isso.

Taís Bravo é escritora, poeta e tradutora em formação. Autora do livro Todos os meus (ex) heróis são machistas. Co-fundadora da revista Capitolina, desde 2014, escreve para veículos como a revista Ovelha, a Alpaca Press e a Trendr. É uma das criadoras e editoras de conteúdo da Mulheres que Escrevem.

Natasha R. Silva é jornalista e escritora. Formada em Jornalismo pela UFRJ e mestre pela Escuela de Periodismo UAM-EL PAÍS, atualmente vive em Madri. É uma das criadoras e editoras de conteúdo da Mulheres que Escrevem.

Estela Rosa é escritora, poeta e tradutora. Formada em Letras pela UFRJ, trabalha como redatora e analista de mídias sociais na Cyan Design. Já colaborou para a Revista Ovelha, participou da Revista Parêntesis, e teve seus poemas publicados pela editora Luna Parque na Revista Grampo Canoa. Em 2017, seu poema Os figos ganhou o segundo lugar no Prêmio OFF FLIP de Literatura. Estela Rosa integra a equipe da Mulheres que Escrevem como curadora de novas colaborações, projetos e eventos.

Acompanhe o projeto aqui.

Fotos: encontros do Mulheres que Escrevem na Livraria Blooks.