entrevista: Lucas Bori

por Cantão

A praia, o calçadão inconfundível, o pôr do sol aplaudido na pedra do Arpoador… O Rio de Janeiro sempre foi sinônimo de sol e sal, e estamos mais do que acostumados a vê-lo registrado dessa maneira.

Pensando numa conversa do Rio e com o Mar (e tudo o que poderia interferir nesse encontro), a artista Maria Lago idealizou o livro “Onde o Rio encontra o Mar – City&Sea” (Editora Língua Geral), lançado semana passada, onde explora o trabalho de nove fotógrafos para retratar a íntima relação da cidade com o oceano – sem velhos clichês. O texto de apresentação é assinado pela jornalista Isabel De Luca.

Luiza Baldan, Pedro Garcia (Cartiê Bressão), Marcos Chaves, Demian Jacob, Carolina Matos, Vicente de Paulo, Tiago Petrik, Maria Lago e Lucas Bori imprimem olhares únicos sobre como o carioca e a cidade construída à beira-mar incorporaram elementos praianos no seu dia a dia. Um trabalho poético e verdadeiro sobre a alma carioca.

Para saber mais sobre esse projeto tão incrível, batemos um papo com Lucas Bori, que além de participar do livro, é também o cara por trás dos cliques do Cantão! 🙂
Aqui ele conta mais sobre o convite e como desenvolveu seu olhar para o projeto:

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Como surgiu o convite para participar do projeto?

A Maria Lago teve a ideia de convidar esse time de fotógrafos pra contar a história do Rio de Janeiro, uma cidade grande na beira-mar. Cada um teve o prazo de 2 meses pra concluir o trabalho, e a gente podia escolher como colaborava, fosse mostrando algum trabalho já produzido ou começando do zero, que foi o meu caso.

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Qual foi o seu ponto de partida?

Eu parti do Hotel Arpoador como um ponto de referência, por ser, de fato, um hotel histórico de frente para a praia. Fiquei um dia inteiro lá, observando e testando algumas coisas. Até que tive a ideia de fugir um pouco do que eu faço como fotógrafo de moda, ou seja, quis sair do primeiro plano e brincar um pouco com o foco e a velocidade. Achei que para esse projeto era muito mais interessante falar de uma sensação do que ter um protagonista em si.

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Como você desenvolveu esse trabalho?

Bom, a minha ideia sempre foi ter um elemento (humano ou urbano) de um lado e o mar do outro, como foco principal, e a cidade sempre interferindo de alguma forma nessa relação. Então sempre havia algo no primeiro plano, meio desfocado mesmo, como se fosse um elemento gráfico que se colocava entre o ponto principal e o mar. E depois eu inverti esses papéis, olhava pros prédios e pra cidade em si e via qual elemento se colocava nessa visão.

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O que inspira seu olhar?

Hoje em dia somos “bombardeados” por imagens de todos os lados, diferente de um tempo atrás. Então o meu ponto de partida antes de qualquer influência é: “o que eu posso ter de diferente da câmera fazendo tudo por mim, como eu posso contar uma história diferente?” e daí surgiu a brincadeira com o foco, com a velocidade e etc. Por que quando algo está fora de foco surge um certo interesse e curiosidade, porque a história não está totalmente contada, e isso dá margem pro espectador preencher essa história com imaginário dele.

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Quais os artistas que mais te influenciaram até hoje?

É difícil falar apenas um (risos). Mas quando eu comecei a fotografar tinham sempre aqueles mestres, como Cartier Bresson , Peter Lindbergh e Sebastião Salgado (que foi o 1º livro de fotografia que eu ganhei). Mas acho que o dia que eu descobri o trabalho de William Eggleston e o do Martin Parr, tinha uma coisa ali. Vi que era diferente e me cativou, a sacada do dia a dia que eles faziam, olhar o simples e descobrir o que tem por trás, qual a história daquela imagem. Desse jeito eles retratavam uma época de forma singular.

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E pra finalizar: o que é viver bem para você?

Viver bem pra mim é conseguir viver de fotografia hoje em dia, estar vivendo e fazendo o que eu amo. Trabalhar com o que você realmente gosta é um grande passo pra viver bem.

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Curtiu? Aqui você conhece mais do trabalho autoral (e muito inspirador!) dele. Ah, não esquece de garantir o livro aqui! 🙂