elementar, meu caro

por Cantão

Não tenho quase nada de Água no meu mapa. Mas se passo duas semanas sem nadar, vejo minha pele tremer, tal qual peixe fora d’água, as guelras abrindo e fechando numa velocidade louca. Não tenho quase nada de água no meu mapa, mas se passo um dia sem cantarolar ou escrever, uma insônia ensandecida me toma. Tais atividades, música e literatura, são símbolos que estão predominantemente ligadas ao elemento água.

A existência é tão sábia que aquilo que nos falta, é muitas vezes nosso motor. Alguns amigos que não possuem nada do elemento Terra no mapa, adoram o contato com hortas e comem inhame e aipim com mais frequência que a grande maioria.

Sou exageradamente terra, e por saber desse exagero, sempre evitei lugares, que para mim, seriam de fácil adesão, como por exemplo: um quartel general. Tenho horror à ideia. Mas que eu seria ótima, sei que seria. Sou tão pontual numa cidade que não respeita esse traço, que trago um fenômeno comigo: mesmo quando estou atrasada, estou adiantada. Normal já.

Além do excesso de terra, também tenho bastante Fogo (ui), e sempre me lembro disso na hora que tenho uns rompantes impulsivos que sim, vez ou outra são bem-vindos, mas vez ou outra esqueço do meu elemento Ar; esqueço de raciocinar, de elocubrar, de ponderar e acabo me arrependendo. Fogo é fogo. Literalmente.

Todos nós temos um signo, um desenho do mapa na hora em que nascemos, somos indivíduos, mas vez ou outra é bom lembrar do conceito do coletivo, da família. E os elementos são fundamentais na interpretação do mapa, pois é ali que enxergamos harmonias ou dissonâncias.

O ideal-ideal (o melhor dos mundos) é termos um pouco de todos os elementos, o tão sonhado equilíbrio, mas como lacra Deleuze “o verdadeiro charme das pessoas consiste quando elas perdem a estribeira, quando não sabem muito bem em que ponto estão”. Pessoas com excesso de um elemento só têm muito disso. Só que o charme só é real quando raro. Quando sua loucura de não saber em que ponto está é constante, pode soar meio mala.

Então, estudem seus mapas, descubram seus excessos ou suas ausências e vejam o que é possível ser feito pra tentar — tentar já é sempre alguma coisa — ter um pouco de tudo. Ar, terra, fogo, água. Coração. Pela união dos seus poderes. Vamos lá, planeta!