urano na casa 3

por Cantão

O horóscopo é dividido em doze partes (12 casas), contadas no sentido anti-horário, a partir do ascendente. Como essa coluna não tem compromisso em ensinar passo a passo do universo da astrologia, vou falar um pouco da casa 3. Resumidamente, a casa 3 é a casa das comunicações, da escola, da troca, do nosso tipo de vida cotidiana. Ela delimita nossa forma de interação com o mundo ao nosso redor.

Eu tenho o signo de Escorpião na casa 3. E além disso, tenho o planeta Urano na mesma casa. Esse planeta representa a revolução, reviravolta, uma transformação, ruptura de antigos padrões. Logo, ter uma ruptura de antigos padrões na casa do cotidiano significa um dia a dia de cabeça para baixo.

Pra reforçar essa reviravolta, comecei a malhar. Pode rir. Ou pode pensar “Ai, eu também devia…”.

Quando fiz 20 e poucos anos, entendi que um dia eu seria uma senhora de 1,83cm, e bem, não vejo muitas senhoras desse tamanho pela rua. Fiz cinco anos de pilates, mas depois dos 30, o caminho da pele é quase brutal – descola mesmo! E como eu canto, resolvi entrar na academia, por conta da parte aeróbica também.

Já sabia dessa moda das meninas que usam meiões para ir malhar. Constantemente minha memória visual falha, mas é porque poucas pessoas se destacam genuinamente. Então, como lembrar de qual menina de meião na academia me reconheceu do filme que eu fiz? Como? Até tenho o tênis que a maioria tem, pois é o mais indicado, mas de resto tento inventar, e não só no visual. Se eles malham ao som de tucum-tucum-tucum-tucum, eu escuto Nina Simone no meu fone de ouvido.

Também é uma transformação e tanto ouvir ” To love Somebody” enquanto eu corro. Correr, inclusive, é outro pesadelo de quem é girafa como eu. Sabe aquele episódio de Friends que a Phoebe corre no Central Park e a Rachel fica com vergonha alheia? Não que eu seja tão desconjuntada assim, mas passo perto. Há quem estranhe, há quem me olhe na academia com cara de “que?”, mas isso é o resumo de “Urano na casa 3”.

Semana passada, enquanto fazia agachamentos – para que quando eu tenha 71 anos, meu bumbum pareça ter 70 – eu fiquei lendo um livro. Até que é uma posição tranquila para ler. Mas como as pessoas tem vidas tão padronizadas, acabei virando um bicho de zoológico (todos ficaram olhando). Mas tudo bem, fico com minhas meias trocadas, minha blusa esquisita, Nina Simone no ouvido e um livro de poesia marginal – e fico amarradona. Isso quando não corro no canto da academia e canto. É preciso ter fôlego para cantar. Correr e cantar, então, que prática!

Onde quer que seu Urano esteja, na casa do amor, dos filhos, da mãe, dos valores (morais e monetários), da morte et ceteras, o bom da vida é criar pequenas ou grandes transformações. Arriscar, ousar, se perceber dentro um padrão antigo e de um sistema, e tentar mirabolar um outro caminho, mesmo que seja atalho, só pra tentar o genuíno, é muito bom. Dá onda. Onda natural dos que fazem outro caminho para voltar pra casa, ou cozinham o mesmo prato de sempre com um novo ingrediente.

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